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Jejum intermitente de alimentação com restrição de tempo conferiu apenas redução modesta de peso, e muito do peso perdido pode ter sido de músculos

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O jejum intermitente1 é uma estratégia da moda para perder peso. Mas um novo estudo descobriu que uma forma popular de jejum intermitente1, chamada de alimentação com restrição de tempo, produzia perda mínima de peso e uma desvantagem potencial: perda muscular.

A nova pesquisa, publicada no JAMA Internal Medicine, é um dos estudos mais rigorosos para examinar a alimentação com restrição de tempo, que envolve o jejum de 12 ou mais horas por dia. Muitos seguidores da dieta, que se popularizou nos livros de dieta mais vendidos e elogiados por celebridades, costumam pular o café da manhã e fazer todas as refeições entre meio-dia e 20h, resultando em um jejum diário de 16 horas.

A eficácia e a segurança da alimentação com restrição de tempo não foram exploradas em grandes ensaios clínicos2 randomizados. O objetivo do estudo, portanto, foi determinar o efeito da alimentação com restrição de tempo de 16:8 horas na perda de peso e em marcadores de risco metabólico em pacientes com sobrepeso3 e obesidade4.

Leia sobre "Dieta do jejum", "Obesidade4" e "Metabolismo5".

Os participantes foram randomizados de modo que o grupo de horário consistente de refeição (HCR) foi instruído a comer 3 refeições estruturadas por dia, e o grupo de alimentação com restrição de tempo (ART) foi instruído a comer ad libitum das 12h00 às 20h00 e abster-se completamente de ingestão calórica das 20h00 às 12h00 do dia seguinte.

Este ensaio clínico randomizado6 de 12 semanas, incluindo homens e mulheres com idade entre 18 e 64 anos, com índice de massa corporal7 (IMC8, calculado como peso em quilogramas dividido pela altura em metros quadrados) de 27 a 43 foi conduzido em um aplicativo móvel de estudo personalizado. Os participantes receberam uma balança Bluetooth. Os participantes viviam em qualquer lugar dos Estados Unidos, com um subconjunto de 50 participantes morando perto de São Francisco, Califórnia, que realizaram o teste pessoalmente.

O resultado primário foi a perda de peso. Os desfechos secundários da coorte9 presencial incluíram mudanças no peso, massa gorda10, massa magra11, insulina12 em jejum, glicose13 em jejum, níveis de hemoglobina14 A1c15, ingestão energética estimada, gasto energético total e gasto energético em repouso.

No geral, 116 participantes (idade média [DP], 46,5 [10,5] anos; 70 [60,3%] homens) foram incluídos no estudo. Houve uma diminuição significativa no peso no grupo de ART (−0,94 kg; IC 95%, −1,68 a −0,20; P = 0,01), mas nenhuma mudança significativa no grupo de HCR (−0,68 kg; IC 95%, -1,41 a 0,05, P = 0,07) ou entre os grupos (−0,26 kg; IC 95%, −1,30 a 0,78; P = 0,63).

Na coorte9 presencial (n = 25 ART, n = 25 HCR), houve uma diminuição significativa de peso dentro do grupo no grupo ART (-1,70 kg; IC 95%, -2,56 a -0,83; P <. 001). Houve também uma diferença significativa no índice de massa magra11 apendicular entre os grupos (−0,16 kg/m²; IC 95%, −0,27 a −0,05; P = 0,005).

Não houve mudanças significativas em qualquer um dos outros resultados secundários dentro ou entre os grupos. Não houve diferenças na ingestão energética estimada entre os grupos.

O estudo mostrou, portanto, que a alimentação com restrição de tempo foi associada a uma redução modesta (1,17%) no peso que não foi significativamente diferente da redução no grupo de controle (0,75%).

Dessa forma, a alimentação com restrição de tempo não conferiu perda de peso ou benefícios cardiometabólicos, demonstrando que comer com restrição de tempo, na ausência de outras intervenções, não é mais eficaz na perda de peso do que comer ao longo do dia.

Veja também sobre "Alimentação saudável", "Como ganhar massa muscular", "Cálculo16 do IMC8" e "Como perder peso e manter o peso alcançado".

 

Fonte: JAMA Internal Medicine, publicação em 28 de setembro de 2020.

 

NEWS.MED.BR, 2020. Jejum intermitente de alimentação com restrição de tempo conferiu apenas redução modesta de peso, e muito do peso perdido pode ter sido de músculos. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1380473/jejum-intermitente-de-alimentacao-com-restricao-de-tempo-conferiu-apenas-reducao-modesta-de-peso-e-muito-do-peso-perdido-pode-ter-sido-de-musculos.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.

Complementos

1 Intermitente: Nos quais ou em que ocorrem interrupções; que cessa e recomeça por intervalos; intervalado, descontínuo. Em medicina, diz-se de episódios de febre alta que se alternam com intervalos de temperatura normal ou cujas pulsações têm intervalos desiguais entre si.
2 Ensaios clínicos: Há três fases diferentes em um ensaio clínico. A Fase 1 é o primeiro teste de um tratamento em seres humanos para determinar se ele é seguro. A Fase 2 concentra-se em saber se um tratamento é eficaz. E a Fase 3 é o teste final antes da aprovação para determinar se o tratamento tem vantagens sobre os tratamentos padrões disponíveis.
3 Sobrepeso: Peso acima do normal, índice de massa corporal entre 25 e 29,9.
4 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
5 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
6 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
7 Índice de massa corporal: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
8 IMC: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
9 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
10 Massa gorda: É a porção de massa do organismo constituída de gordura armazenada (encontrada no tecido subcutâneo) e gordura essencial (encontrada nas vísceras, responsável pelo funcionamento fisiológico normal). A massa gorda é o resultado em quilos do percentual de gordura existente no organismo. Por exemplo, um indivíduo de 100 quilos e com percentual de gordura de 38%, pode ter o valor da massa gorda calculado em 38 quilos.
12 Insulina: Hormônio que ajuda o organismo a usar glicose como energia. As células-beta do pâncreas produzem insulina. Quando o organismo não pode produzir insulna em quantidade suficiente, ela é usada por injeções ou bomba de insulina.
13 Glicose: Uma das formas mais simples de açúcar.
14 Hemoglobina: Proteína encarregada de transportar o oxigênio desde os pulmões até os tecidos do corpo. Encontra-se em altas concentrações nos glóbulos vermelhos.
15 A1C: O exame da Hemoglobina Glicada (A1C) ou Hemoglobina Glicosilada é um teste laboratorial de grande importância na avaliação do controle do diabetes. Ele mostra o comportamento da glicemia em um período anterior ao teste de 60 a 90 dias, possibilitando verificar se o controle glicêmico foi efetivo neste período. Isso ocorre porque durante os últimos 90 dias a hemoglobina vai incorporando glicose em função da concentração que existe no sangue. Caso as taxas de glicose apresentem níveis elevados no período, haverá um aumento da hemoglobina glicada. O valor de A1C mantido abaixo de 7% promove proteção contra o surgimento e a progressão das complicações microvasculares do diabetes (retinopatia, nefropatia e neuropatia).
16 Cálculo: Formação sólida, produto da precipitação de diferentes substâncias dissolvidas nos líquidos corporais, podendo variar em sua composição segundo diferentes condições biológicas. Podem ser produzidos no sistema biliar (cálculos biliares) e nos rins (cálculos renais) e serem formados de colesterol, ácido úrico, oxalato de cálcio, pigmentos biliares, etc.
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