Gostou do artigo? Compartilhe!

Ajustes de dose de levotiroxina não alteram os sintomas no hipotireoidismo em alguns casos

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

Trabalho apresentado na 2017 Annual Meeting of the American Thyroid Association mostra que as alterações dos níveis de hormônio1 tireoidiano através de ajustes de dose de levotiroxina2 para níveis inferiores e superiores, dentro de intervalos de referência normais e até níveis de hipotireoidismo3 subclínico, não apresentam efeitos significativos nas medidas de qualidade de vida, humor e função cognitiva4, em um estudo duplo-cego5 e randomizado6.

Segundo Mary H. Samuels, do departamento de endocrinologia, diabetes7 e nutrição8 clínica, da Oregon Health & Science University, autora principal do estudo, "os clínicos devem estabelecer expectativas razoáveis para pacientes9 com hipotiroidismo que solicitam doses elevadas de levotiroxina2 com base na melhoria da qualidade de vida, humor ou sintomas10 cognitivos11, pois esses sintomas10 provavelmente não estão relacionados às doses de levotiroxina2 e podem não melhorar quando elas são alteradas".

Saiba mais sobre "Hipotireoidismo3 subclínico" e "Hipotireoidismo3".

Considerando que o hipotireoidismo3 aparente é conhecido por ter efeitos no humor e nas funções cognitivas, incluindo atenção, memória e função executiva12, os efeitos neurocognitivos das variações da função tireoidiana dentro do intervalo normal e até níveis de hipotireoidismo3 subclínico são menos claros. O relatório subjetivo de sintomas10 de hipotireoidismo3 mais ameno, entretanto, pode fazer do tratamento adequado um desafio.

Na ausência de dados conclusivos, muitos pacientes com hipotireoidismo3 leve são iniciados no uso de levotiroxina2 para tratar melhoria da qualidade de vida inespecífica, o humor ou os sintomas10 cognitivos11, e muitos pacientes com hipotireoidismo3 tratados com levotiroxina2 solicitam aumentos adicionais das doses devido à persistência desses sintomas10.

Em um esforço para identificar mais objetivamente os efeitos de variações leves da função tireoidiana, a Dra. Samuels e colegas inscreveram 138 indivíduos com hipotireoidismo3 tratados com levotiroxina2 em níveis normais de hormônio1 estimulante da tireoide13 (TSH).

Os pacientes tiveram doses de levotiroxina2 estáveis durante pelo menos 3 meses antes do estudo e foram trocados para a levotiroxina2 com marca, caso usassem formulação genérica, para manter a consistência no estudo.

Os pacientes, que eram 90% do sexo feminino, foram randomizados para receber a dose habitual de levotiroxina2 ou uma dose maior ou menor em forma de dupla ocultação, visando um dos três níveis de TSH: baixo normal (0,34 a 2,5 mU/L; n = 46 ), alta normal (2,51 a 5,6 mU/L; n = 47) ou hipotireoidismo3 leve (5,61 a 12,00 mU/L; n = 45), com ajustes a cada 6 semanas, se necessário.

Surpreendentemente, avaliações após 6 meses em uma ampla variedade de medidas de humor, qualidade de vida e cognição14 não mostraram diferenças significativas entre os três grupos, com pequenas exceções. Estas incluíram a dor corporal, que foi melhor no grupo TSH alto-normal (P =0,04), mas não houve efeitos clinicamente significativos em nenhum resultado, informaram os autores. Além disso, os pacientes relataram preferência por doses de levotiroxina2 que eles percebiam serem maiores, mas não eram realmente maiores (P<0,001). Enquanto isso, a preferência não era evidente quando as doses realmente eram maiores.

Além de tamanho de amostra relativamente pequeno, as limitações do estudo incluem o fato de que a maioria dos indivíduos eram mulheres e eram relativamente jovens (média entre 48 e 51 anos), além de poder haver variáveis não medidas. Portanto, pesquisas adicionais são necessárias para maiores esclarecimentos.

No entanto, este é o primeiro estudo controlado por placebo15 e cego a mostrar que a alteração das doses de levotiroxina2 em pacientes com hipotiroidismo não afeta a qualidade de vida, o humor ou a função cognitiva4 usando medidas extensas e sensíveis desses resultados, que são todos sintomas10 comuns em pacientes hipotireoidianos tratados, ressaltou a autora.

Leia sobre "Hipotireoidismo3 congênito16", "Diagnóstico17 e tratamento do hipotireoidismo3" e "Tireoidite de Hashimoto".

 

Fonte: 2017 Annual Meeting of the American Thyroid Association, Abstract 21, apresentado em 20 de outubro de 2017

 

NEWS.MED.BR, 2017. Ajustes de dose de levotiroxina não alteram os sintomas no hipotireoidismo em alguns casos. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/saude/1306088/ajustes-de-dose-de-levotiroxina-nao-alteram-os-sintomas-no-hipotireoidismo-em-alguns-casos.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.

Complementos

1 Hormônio: Substância química produzida por uma parte do corpo e liberada no sangue para desencadear ou regular funções particulares do organismo. Por exemplo, a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que diz a outras células quando usar a glicose para energia. Hormônios sintéticos, usados como medicamentos, podem ser semelhantes ou diferentes daqueles produzidos pelo organismo.
2 Levotiroxina: Levotiroxina sódica ou L-tiroxina (T4) é um hormônio sintético usado no tratamento de reposição hormonal quando há déficit de produção de tiroxina (T4) pela glândula tireoide.
3 Hipotireoidismo: Distúrbio caracterizado por uma diminuição da atividade ou concentração dos hormônios tireoidianos. Manifesta-se por engrossamento da voz, aumento de peso, diminuição da atividade, depressão.
4 Cognitiva: 1. Relativa ao conhecimento, à cognição. 2. Relativa ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
5 Estudo duplo-cego: Denominamos um estudo clínico “duplo cego†quando tanto voluntários quanto pesquisadores desconhecem a qual grupo de tratamento do estudo os voluntários foram designados. Denominamos um estudo clínico de “simples cego†quando apenas os voluntários desconhecem o grupo ao qual pertencem no estudo.
6 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
7 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
8 Nutrição: Incorporação de vitaminas, minerais, proteínas, lipídios, carboidratos, oligoelementos, etc. indispensáveis para o desenvolvimento e manutenção de um indivíduo normal.
9 Para pacientes: Você pode utilizar este texto livremente com seus pacientes, inclusive alterando-o, de acordo com a sua prática e experiência. Conheça todos os materiais Para Pacientes disponíveis para auxiliar, educar e esclarecer seus pacientes, colaborando para a melhoria da relação médico-paciente, reunidos no canal Para Pacientes . As informações contidas neste texto são baseadas em uma compilação feita pela equipe médica da Centralx. Você deve checar e confirmar as informações e divulgá-las para seus pacientes de acordo com seus conhecimentos médicos.
10 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
11 Cognitivos: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
12 Função executiva: Também conhecida como controle cognitivo ou sistema supervisor atencional é um conceito neuropsicológico que se aplica ao processo cognitivo responsável pelo planejamento e execução de atividades, que podem incluir, por exemplo, a iniciação de tarefas, memória de trabalho, atenção sustentada e inibição de impulsos.
13 Tireoide: Glândula endócrina altamente vascularizada, constituída por dois lobos (um em cada lado da TRAQUÉIA) unidos por um feixe de tecido delgado. Secreta os HORMÔNIOS TIREOIDIANOS (produzidos pelas células foliculares) e CALCITONINA (produzida pelas células para-foliculares), que regulam o metabolismo e o nível de CÁLCIO no sangue, respectivamente.
14 Cognição: É o conjunto dos processos mentais usados no pensamento, percepção, classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas.
15 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
16 Congênito: 1. Em biologia, o que é característico do indivíduo desde o nascimento ou antes do nascimento; conato. 2. Que se manifesta espontaneamente; inato, natural, infuso. 3. Que combina bem com; apropriado, adequado. 4. Em termos jurídicos, é o que foi adquirido durante a vida fetal ou embrionária; nascido com o indivíduo. Por exemplo, um defeito congênito.
17 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
Gostou do artigo? Compartilhe!