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Fiocruz: ômega 3 e mangiferina podem ser boas alternativas na prevenção e no controle da asma

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Estudos realizados no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), pelos pesquisadores Marco Aurélio Martins e Patrícia Silva investigam alternativas para o alívio dos sintomas1 da asma2. O uso preventivo3 da mangiferina (substância com propriedades anti-inflamatórias e antiespasmódicas presente na casca de árvores como a mangueira) e do ômega 3 (ácido graxo essencial encontrado em peixes como o atum e o salmão) podem ajudar no controle e na prevenção da asma2, com resultados da etapa de testes com animais publicados recentemente na revista científica Plos One.

A pesquisadora Patrícia Silva estuda os efeitos protetores do ômega 3 em camundongos. Os animais foram separados em dois grupos: o primeiro foi alimentado com uma ração cuja fonte de lipídio foi substituída pelo óleo de peixe, fonte de ômega 3. O outro foi alimentado com ração normal. Após quatro semanas, os dois grupos foram expostos à albumina4 do ovo5, proteína reconhecida como antígeno6 pelo sistema imune7 dos camundongos, provocando reações imunológicas (desafio alérgico). Nos testes com os animais, a albumina4 foi aspirada e, por isso, deflagrou a resposta alérgica específica da asma2. Nos animais alimentados com ômega 3, a crise alérgica foi minimizada em 60% em comparação ao outro grupo. Houve redução da produção de muco, do infiltrado inflamatório e da contração dos brônquios8, decorrentes da migração de eosinófilos9 para as vias aéreas. Houve, ainda, menor depósito de componentes de matriz extracelular em torno dos brônquios8. Este fenômeno visa reparar as lesões10 sofridas pelos dutos de ar durante uma crise, mas, a longo prazo, é responsável pelo enrijecimento das vias aéreas e, consequentemente, o agravamento da doença, esclarece a especialista. Além disso, a produção dos anticorpos11 anafiláticos, como o IgE e o IgG1 – este último específico dos camundongos – foi reduzido a 80%. “É um efeito cascata: tratando os animais de forma preventiva com ômega 3, reduzimos a sensibilização contra os antígenos12, fazendo com que eles produzissem menos anticorpos11, inibindo todas as etapas do ciclo alérgico”, destacou a pesquisadora. O estudo foi realizado em parceria com as pesquisadoras Márcia Águila e Thereza Bargut do Laboratório de Morfometria, Metabolismo13 e Doenças Cardiovasculares14 da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). A explicação é simples: quando o ômega 3 é processado metabolicamente pelo corpo, gera mediadores lipídicos menos inflamatórios – e são estes mediadores que vão participar da resposta imunológica.

Outro estudo em andamento é do chefe do Laboratório de Inflamação15 do IOC, Marco Aurélio Martins, que estuda um grupo especial de asmáticos portadores de diabetes16. Um dos efeitos colaterais17 do corticoide, anti-inflamatório esteroidal utilizado para debelar crises, é a desregulação metabólica, agravando o quadro da diabetes16. O pesquisador iniciou estudos sobre a mangiferina, um composto extraído da casca do tronco da mangueira. Comumente utilizada como fitoterápico no Caribe contra agravos de diferentes ordens, a substância não apresenta efeitos colaterais17 conhecidos. Estudos realizados por pesquisadores em Cuba apontaram sua eficácia como antioxidante, protetor do aparelho gástrico, anti-inflamatório e anti-diabetogênico18. A mangiferina também é usada contra asma2, câncer19 e doenças da pele20.

Na primeira etapa da pesquisa, Martins utilizou sistemas de órgão isolado, testando o composto em anéis de traqueias de cobaias asmáticas. A mangiferina foi administrada e, em seguida, os sistemas de órgão isolado foram expostos a antígenos12, com a finalidade de provocar uma reação alérgica21. Equipamentos especiais conseguiram registrar que a contração foi menor nos sistemas tratados com o composto. Na etapa seguinte, foram utilizados modelos experimentais de camundongos, que receberam mangiferina por via oral antes de serem submetidos ao desafio alérgico. Assim como no estudo com o ômega 3, o infiltrado inflamatório não ocorreu no grupo que havia tomado a mangiferina. “Foi observado um quadro muito atenuado, no qual a mangiferina exerceu o papel de agente anti-inflamatório e de broncodilatador22, prevenindo a crise”, explica Martins. De acordo com o pesquisador, isso acontece porque a substância estimula a produção de óxido nítrico pelas células23 epiteliais que ‘pavimentam’ as vias aéreas. Isso leva a um aumento de GMP cíclico, sinalizador responsável por bloquear a entrada de cálcio nas células23. “A contração muscular depende principalmente dos níveis de cálcio dentro das células23. Se a concentração é baixa, a musculatura lisa relaxa. A mangiferina ajuda a manter a musculatura relaxada e, consequentemente, menos hiperreativa aos estímulos”, assinala. “No estudo, mostramos, de forma inédita, os mecanismos pelos quais a mangiferina inibe o espasmo24, a contração e a inflamação15 do músculo respiratório liso, componentes principais da doença asmática. Agora, estamos nos preparando para avaliar se ela age, simultaneamente, contra os sintomas1 da diabetes16 e da asma2 em camundongos acometidos pelos dois agravos”, antecipa.

Ambos os pesquisadores planejam investigar o potencial do ômega 3 e da mangiferina enquanto medidas profiláticas, ou seja, como prevenção para crises asmáticas.

Fonte: Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), de 22 de setembro de 2014

Veja a reportagem completa em:

Ômega 3 e magiferina podem ser aliados na prevenção e no controle da asma2

NEWS.MED.BR, 2014. Fiocruz: ômega 3 e mangiferina podem ser boas alternativas na prevenção e no controle da asma. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/saude/572277/fiocruz-omega-3-e-mangiferina-podem-ser-boas-alternativas-na-prevencao-e-no-controle-da-asma.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.

Complementos

1 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
2 Asma: Doença das vias aéreas inferiores (brônquios), caracterizada por uma diminuição aguda do calibre bronquial em resposta a um estímulo ambiental. Isto produz obstrução e dificuldade respiratória que pode ser revertida de forma espontânea ou com tratamento médico.
3 Preventivo: 1. Aquilo que previne ou que é executado por medida de segurança; profilático. 2. Na medicina, é qualquer exame ou grupo de exames que têm por objetivo descobrir precocemente lesão suscetível de evolução ameaçadora da vida, como as lesões malignas. 3. Em ginecologia, é o exame ou conjunto de exames que visa surpreender a presença de lesão potencialmente maligna, ou maligna em estágio inicial, especialmente do colo do útero.
4 Albumina: Proteína encontrada no plasma, com importantes funções, como equilíbrio osmótico, transporte de substâncias, etc.
5 Ovo: 1. Célula germinativa feminina (haploide e madura) expelida pelo OVÁRIO durante a OVULAÇÃO. 2. Em alguns animais, como aves, répteis e peixes, é a estrutura expelida do corpo da mãe, que consiste no óvulo fecundado, com as reservas alimentares e os envoltórios protetores.
6 Antígeno: 1. Partícula ou molécula capaz de deflagrar a produção de anticorpo específico. 2. Substância que, introduzida no organismo, provoca a formação de anticorpo.
7 Sistema imune: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
8 Brônquios: A maior passagem que leva ar aos pulmões originando-se na bifurcação terminal da traquéia. Sinônimos: Bronquíolos
9 Eosinófilos: Eosinófilos ou granulócitos eosinófilos são células sanguíneas responsáveis pela defesa do organismo contra parasitas e agentes infecciosos. Também participam de processos inflamatórios em doenças alérgicas e asma.
10 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
11 Anticorpos: Proteínas produzidas pelo organismo para se proteger de substâncias estranhas como bactérias ou vírus. As pessoas que têm diabetes tipo 1 produzem anticorpos que destroem as células beta produtoras de insulina do próprio organismo.
12 Antígenos: 1. Partículas ou moléculas capazes de deflagrar a produção de anticorpo específico. 2. Substâncias que, introduzidas no organismo, provocam a formação de anticorpo.
13 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
14 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
15 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
16 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
17 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
18 Diabetogênico: Que causa diabetes.Alguns medicamentos causam aumento da glicemia resultando em diabetes. Por exemplo, os glicocorticóides.
19 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
20 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
21 Reação alérgica: Sensibilidade a uma substância específica, chamada de alérgeno, com a qual se entra em contato por meio da pele, pulmões, deglutição ou injeções.
22 Broncodilatador: Substância farmacologicamente ativa que promove a dilatação dos brônquios.
23 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
24 Espasmo: 1. Contração involuntária, não ritmada, de um ou vários músculos, podendo ocorrer isolada ou continuamente, sendo dolorosa ou não. 2. Qualquer contração muscular anormal. 3. Sentido figurado: arrebatamento, exaltação, espanto.
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