Infecção prévia por vírus da dengue pode proteger crianças contra infecção sintomática por Zika vírus: estudo publicado na PLOS Medicine
O vírus1 Zika (ZIKV) surgiu no nordeste do Brasil em 2015 e se espalhou rapidamente pelas Américas, em populações que foram amplamente expostas ao vírus1 da dengue2 (DENV). O impacto da infecção3 prévia por DENV no resultado da infecção3 pelo ZIKV ainda não está claro.
Saiba mais sobre "Zika vírus1" e "Dengue2".
Para estudar este impacto potencial, um estudo publicado na revista PLOS Medicine analisou a grande epidemia de Zika de 2016 em Manágua, Nicarágua, em uma coorte4 pediátrica com histórias de infecção3 por DENV bem caracterizadas.
Infecções5 sintomáticas por ZIKV (casos de Zika) foram identificadas por PCR6 de transcrição reversa em tempo real e sorologia em um estudo de coorte7 baseado em comunidade que acompanhou cerca de 3.700 crianças de 2 a 14 anos de idade. Amostras de sangue8 anuais foram usadas para identificar infecções5 assintomáticas por ZIKV usando um novo teste sorológico bem caracterizado. A regressão multivariável de Poisson foi usada para examinar a relação entre infecção3 prévia por DENV e incidência9 de infecção3 por ZIKV sintomática10 e assintomática. O método de crescimento generalizado foi utilizado para estimar o número efetivo de reprodução11.
De 1 de janeiro de 2016 a 28 de fevereiro de 2017, foram identificadas 560 infecções5 sintomáticas por ZIKV e 1.356 infecções5 totais por ZIKV (sintomáticas e assintomáticas), para uma incidência9 geral de 14,0 infecções5 sintomáticas (IC 95%: 12,9, 15,2) e 36,5 infecções5 totais (IC 95%: 34,7, 38,6) por 100 pessoas-ano.
Estimativas efetivas de número de reprodução11 variaram de 3,3 a 3,4, dependendo do período de onda ascendente. A incidência9 de infecções5 sintomáticas e totais pelo ZIKV foi maior em mulheres e crianças mais velhas.
A análise do efeito da infecção3 prévia por DENV foi realizada em 3.027 participantes com histórias documentadas de infecção3 por DENV, dos quais 743 (24,5%) tiveram pelo menos uma infecção3 prévia por DENV durante o acompanhamento da coorte4.
A infecção3 prévia por DENV foi inversamente associada ao risco de infecção3 sintomática10 por ZIKV na população total da coorte4 (Razão de Taxas de Incidência9 [IRR]: 0,63; IC 95%: 0,48; 0,81; p <0,005) e ao risco de apresentação sintomática10 dada a infecção3 pelo ZIKV (IRR: 0,62; IC 95%: 0,44, 0,86) quando ajustado para idade, sexo e infecção3 recente por DENV (1 a 2 anos antes da infecção3 pelo ZIKV).
Infecção3 recente por DENV foi significativamente associada à diminuição do risco de infecção3 sintomática10 por ZIKV quando ajustado para idade e sexo, mas não quando ajustado para infecção3 prévia por DENV. A infecção3 prévia ou recente pelo DENV não afetou a taxa de infecções5 totais pelo ZIKV. Os achados do estudo são limitados a uma população pediátrica e restringidos pela epidemiologia do local.
Essas descobertas suportam a hipótese de que a infecção3 prévia por DENV pode proteger os indivíduos do Zika sintomático12. Mais pesquisas são necessárias para abordar o possível mecanismo imunológico de proteção cruzada entre o ZIKV e o DENV e se a imunidade13 ao DENV também modula outros resultados de infecção3 pelo ZIKV, como síndromes neurológicas ou congênitas14.
Leia também sobre "Zika vírus1, microcefalia15 e síndrome16 de Guillain-Barré", "Síndrome16 congênita17 do Zika", "Sintomas18 e cuidados com a Dengue2" e "Tratamento da dengue2".
Fonte: PLOS Medicine, publicação online de 22 de janeiro de 2019.