Gostou do artigo? Compartilhe!

Papel do refluxo gastroesofágico na cascata inflamatória da otite média em crianças

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

A otite média1 é caracterizada por uma inflamação2 com acúmulo de secreção no ouvido médio3. Os mecanismos moleculares subjacentes à patogênese4 da doença, particularmente a resposta inflamatória, são ainda desconhecidos. A hipótese do presente estudo é de que a aspiração do conteúdo gástrico5 para a nasofaringe6 pode ser responsável pelo início do processo inflamatório ou agravar uma condição pré-existente.

Um estudo publicado pelo periódico JAMA Otolaryngology - Head Neck Surgery investigou a correlação entre a pepsina A gástrica, as citocinas7 inflamatórias, a infecção8 bacteriana e os resultados clínicos.

O estudo prospectivo9 contou com 129 pacientes pediátricos submetidos à miringotomia com colocação de tubo de ventilação10 para tratamento da otite média1 em um hospital pediátrico de nível terciário.

Amostras de ouvido foram testadas para a pepsina A, citocinas7 interleucinas (IL-6, IL-8 e fator de necrose11 tumoral) e inoculação12 de bactérias para cultura. Os dados foram analisados pela estatística descritiva e análise de regressão para identificar fatores de risco para a presença de pepsina A e correlacionar os níveis de pepsina A com os níveis de citocinas7, o estado de infecção8 e os resultados clínicos.

Dos 129 pacientes, foram obtidas 199 amostras de ouvido; 82 amostras (41%) e 64 pacientes (50%) foram positivos para a pepsina A medida por imunoensaio. A positividade da pepsina A foi correlacionada com idade menor do que três anos e com todos os três níveis de citocinas7 (fator de necrose11 tumoral, IL-6 e IL-8). No entanto, a análise de regressão logística mostrou que apenas a IL-8 e a idade foram variáveis independentes significativas. Não houve associação estatisticamente significativa encontrada com outros parâmetros. Regressões lineares múltiplas revelaram que os níveis de pepsina A foram correlacionados com os níveis de IL-8 e a necessidade de uma segunda ou terceira colocação de tubos de ventilação10 6 a 12 meses após a colocação do primeiro. A presença de pepsina A no ouvido médio3 não foi associada ao aumento de infecção8 bacteriana. A interleucina 8 foi independente e significativamente associada aos níveis de pepsina A e à infecção8 bacteriana.

O refluxo esofágico, como indicado pela presença de pepsina A, está intimamente envolvido no processo inflamatório da otite média1 e pode piorar a doença em algumas crianças; no entanto, uma prova de causa e efeito entre o refluxo extraesofágico e a inflamação2 do ouvido médio3 requer uma investigação mais aprofundada.

Fonte: JAMA Otolaryngology - Head Neck Surgery, publicação online, de 29 de janeiro de 2015

NEWS.MED.BR, 2015. Papel do refluxo gastroesofágico na cascata inflamatória da otite média em crianças. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/743387/papel-do-refluxo-gastroesofagico-na-cascata-inflamatoria-da-otite-media-em-criancas.htm>. Acesso em: 16 abr. 2024.

Complementos

1 Otite média: Infecção na orelha média.
2 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
3 Ouvido médio: Atualmente denominado orelha média, é constituído pela membrana timpânica, cavidade timpânica, células mastoides, antro mastoide e tuba auditiva. Separa-se da orelha externa através da membrana timpânica e se comunica com a orelha interna através das janelas oval e redonda.
4 Patogênese: Modo de origem ou de evolução de qualquer processo mórbido; nosogenia, patogênese, patogenesia.
5 Conteúdo Gástrico: Conteúdo compreendido em todo ou qualquer segmento do TRATO GASTROINTESTINAL
6 Nasofaringe: Nasofaringe ou cavum é a parte superior da faringe, localizada logo atrás do nariz e acima do palato mole. Nesta área, drenam as trompas de Eustáquio, comunicação entre o ouvido médio e a faringe, com a função de ventilar adequadamente as orelhas.
7 Citocinas: Citoquina ou citocina é a designação genérica de certas substâncias segregadas por células do sistema imunitário que controlam as reações imunes do organismo.
8 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
9 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
10 Ventilação: 1. Ação ou efeito de ventilar, passagem contínua de ar fresco e renovado, num espaço ou recinto. 2. Agitação ou movimentação do ar, natural ou provocada para estabelecer sua circulação dentro de um ambiente. 3. Em fisiologia, é o movimento de ar nos pulmões. Perfusão Em medicina, é a introdução de substância líquida nos tecidos por meio de injeção em vasos sanguíneos.
11 Necrose: Conjunto de processos irreversíveis através dos quais se produz a degeneração celular seguida de morte da célula.
12 Inoculação: Ato ou efeito de inocular (-se); deixar entrar. Em medicina, significa introduzir (o agente de uma doença) em (organismo), com finalidade preventiva, curativa ou experimental.
Gostou do artigo? Compartilhe!