Um gel que restaura o esmalte dentário pode prevenir cáries
Pesquisadores desenvolveram um gel que usa substâncias químicas encontradas na saliva para reparar e regenerar o esmalte dentário1, o que pode prevenir o desenvolvimento de cáries2 que necessitam de obturações. As descobertas foram publicadas na revista Nature Communications.
O esmalte3 – a camada dura e brilhante na superfície dos dentes – protege as camadas internas sensíveis do desgaste, ácidos e bactérias. “O esmalte3 é a primeira linha de defesa. Uma vez que essa linha de defesa começa a se deteriorar, a cárie dentária se acelera”, afirma Alvaro Mata, da Universidade de Nottingham, no Reino Unido. O esmalte3 não se regenera naturalmente, e tratamentos como vernizes de flúor e soluções remineralizantes apenas impedem que a situação piore.
Em busca de uma solução, Mata e seus colegas desenvolveram um gel contendo uma versão modificada de uma proteína que manipularam para agir como a amelogenina, uma proteína que ajuda a guiar o crescimento do nosso esmalte dentário1 quando somos bebês4.
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Experimentos que envolveram a aplicação do gel em dentes humanos sob um microscópio, em soluções contendo cálcio e fosfato – os principais componentes do esmalte3 – mostram que ele cria uma camada fina e resistente que permanece nos dentes por algumas semanas, mesmo durante a escovação.
O gel preenche buracos e rachaduras, criando uma estrutura que utiliza o cálcio e o fosfato para promover o crescimento organizado de novos cristais no esmalte3 abaixo da camada de gel, mesmo quando grande parte do esmalte3 foi removida, expondo a dentina subjacente.
“O gel foi capaz de promover o crescimento epitaxial de cristais, o que significa que ele está na mesma orientação cristalográfica do esmalte3 existente”, diz Mata.
Essa orientação significa que o novo crescimento, que atingiu até 10 micrômetros de espessura, é integrado ao tecido5 natural subjacente, reconstruindo a estrutura e as propriedades do esmalte3. “O crescimento ocorre em uma semana”, diz Mata. O processo também funcionou quando se utilizou saliva doada, que também contém naturalmente cálcio e fosfato, e não apenas na solução utilizada pela equipe, que continha esses compostos químicos.
Uma abordagem semelhante foi relatada em 2019, mas produziu revestimentos mais finos e a recuperação da arquitetura das camadas internas do esmalte3 foi apenas parcial.
Ensaios clínicos6 em humanos estão previstos para o início do próximo ano. Mata também lançou uma empresa chamada Mintech-Bio e espera ter um primeiro produto no mercado no final de 2026, que ele prevê que será usado por dentistas.
No artigo publicado, os pesquisadores relatam como uma matriz proteica supramolecular biomimética restaura a estrutura e as propriedades do esmalte dentário1 humano.
Eles explicam que o esmalte dentário1 é caracterizado por uma organização hierárquica complexa de nanocristais de apatita que lhe confere alta rigidez, dureza e resistência à fratura7. No entanto, o esmalte3 não possui a capacidade de se regenerar, e alcançar a restauração artificial de sua microestrutura e propriedades mecânicas em ambientes clínicos tem se mostrado um desafio.
Para solucionar esse problema, desenvolveu-se uma matriz supramolecular ajustável e resiliente baseada em recombinâmeros semelhantes à elastina (ELRs – elastin-like recombinamers) que imita a estrutura e a função da matriz de desenvolvimento do esmalte3. Quando aplicada como revestimento na superfície de dentes com diferentes níveis de erosão, a matriz se mostra estável e capaz de desencadear o crescimento epitaxial de nanocristais de apatita, recriando a microarquitetura das diferentes regiões anatômicas do esmalte3 e restaurando suas propriedades mecânicas.
O estudo demonstra o potencial translacional dessa tecnologia de mineralização para o tratamento da perda de esmalte3 em contextos clínicos, como o tratamento da erosão do esmalte3 e da hipersensibilidade dentária.
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Fontes:
Nature Communications, publicação em 04 de novembro de 2025.
New Scientist, notícia publicada em 04 de novembro de 2025.






