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A escoliose prejudica a função cardíaca na idade adulta

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A escoliose1 foi associada à alteração da função cardíaca e ao aumento de eventos cardíacos entre adultos no UK Biobank, de acordo com um estudo publicado no jornal científico Open Heart.

Em comparação com colegas sem escoliose1, aqueles com tal curvatura lateral da coluna exibiram um maior risco vitalício de eventos cardiovasculares adversos maiores (ECAM), causados por insuficiência cardíaca2 e fibrilação atrial, relataram Kathryn McGurk, PhD, geneticista cardiovascular do Imperial College London e colegas.

As pessoas com escoliose1 também tiveram um risco maior ao longo da vida de esforço diastólico alterado em termos de taxas de esforço diastólico máximo radial aumentadas e longitudinal reduzidas na ressonância magnética3 cardíaca, bem como compressão cardíaca da parte superior e inferior do coração4 e alongamento dos lados a partir da análise de superfície a superfície.

“Estas descobertas sugerem que a intervenção médica precoce em pacientes com escoliose1 por meio de cirurgia pode diminuir o risco de ECAMs futuros, no entanto, a validação futura desta descoberta é necessária em uma coorte5 de casos de escoliose1. Pode ser possível que a escoliose1 se desenvolva secundária a outras doenças que também poderiam aumentar o risco de ECAMs”, observaram os autores.

“Mais pesquisas são necessárias para acompanhar o papel da escoliose1 nas manifestações cardíacas em um ambiente clínico”, acrescentaram.

A escoliose1 é a deformidade da coluna vertebral6 mais comum. Esta condição pode ser atribuída a múltiplas etiologias e é mais comumente idiopática7 em crianças e adolescentes. Em adultos, no entanto, escoliose1 de início recente geralmente resulta de doença degenerativa8 na parte inferior das costas9 começando por volta dos 65 anos, de acordo com a Associação Americana de Cirurgiões Neurológicos.

O grupo de McGurk disse que a escoliose1 degenerativa8 é observada em 68% dos adultos com mais de 60 anos.

Em crianças e adultos, a curvatura espinhal leve pode exigir observação periódica, enquanto casos mais graves podem exigir órtese10 e cirurgia.

Saiba mais sobre "Desvios da coluna vertebral6" e "Cifose e escoliose1".

Com base em suas observações, McGurk e colegas sugeriram que a curvatura anormal da coluna vertebral6 na escoliose1 aumenta a restrição mecânica do coração4 sem alterar o fluxo sanguíneo.

“Este esforço cardíaco alterado pode ser explicado pela deformidade da caixa torácica na escoliose1, limitando o movimento diastólico cardíaco. As anormalidades mecânicas da coluna torácica, bem como o impacto no sistema pulmonar, podem ser a principal causa do envolvimento cardíaco”, os autores escreveram.

“Pode ser possível o envolvimento secundário através da hemodinâmica11 pulmonar alterada, onde a curvatura da coluna vertebral6 impacta as pressões pulmonares levando à hipertensão12 pulmonar. Da mesma forma, a compressão direta do miocárdio13 pode ocorrer em conjunto com o envolvimento pulmonar”, acrescentaram.

No artigo publicado os pesquisadores contextualizam que alterações estruturais causadas pela curvatura da coluna vertebral6 podem afetar os órgãos dentro da caixa torácica, incluindo o coração4. As anormalidades cardíacas em pacientes com escoliose1 idiopática7 são frequentemente estudadas após a cirurgia corretiva ou secundárias a doenças.

Para investigar a estrutura, função e resultados cardíacos em participantes com escoliose1, foram analisados fenótipos e dados de imagem da coorte5 da população adulta do UK Biobank (UKB).

Estatísticas de episódios hospitalares de 502.324 adultos foram analisadas para identificar participantes com escoliose1.

O resumo dos fenótipos cardíacos 2D de 39.559 ressonâncias magnéticas cardíacas (RMC) foram analisados juntamente com uma análise 3D de superfície a superfície (SaS).

Um total de 4.095 (0,8%, 1 em 120) participantes do UKB foram identificados como tendo escoliose1 por todas as causas. Esses participantes tiveram um risco aumentado ao longo da vida de eventos cardiovasculares adversos maiores (ECAMs) (HR = 1,45, p <0,001), impulsionado por insuficiência cardíaca2 (HR = 1,58, p <0,001) e fibrilação atrial (HR = 1,54, p <0,001).

Taxas de esforço diastólico máximo radial aumentadas e longitudinal reduzidas foram identificadas em participantes com escoliose1 (+0,29, P <0,05; -0,25, P <0,05; respectivamente).

A compressão cardíaca da parte superior e inferior do coração4 e a descompressão14 dos lados foram observadas por meio da análise de SaS.

Além disso, foram identificadas associações entre escoliose1 e idade avançada, sexo feminino, insuficiência cardíaca2, doença valvular, hipercolesterolemia15, hipertensão12 e diminuição da inscrição para RMC.

O estudo concluiu que a curvatura da coluna observada em participantes com escoliose1 altera o movimento do coração4. A associação com ECAM aumentado pode ter implicações clínicas para a realização ou não de correção cirúrgica.

Este trabalho identifica, em uma população adulta, evidências de alteração da função cardíaca e aumento do risco de ECAM ao longo da vida em participantes com escoliose1.

Leia sobre "Doenças cardiovasculares16" e "Alterações posturais - quais são as mais comuns?"

 

Fontes:
Open Heart, publicação em 03 de maio de 2023.
MedPage Today, notícia publicada em 04 de maio de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. A escoliose prejudica a função cardíaca na idade adulta. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1438400/a-escoliose-prejudica-a-funcao-cardiaca-na-idade-adulta.htm>. Acesso em: 18 abr. 2024.

Complementos

1 Escoliose: Deformidade no alinhamento da coluna vertebral, que produz uma curvatura da mesma para um dos lados. Pode ser devido a distúrbios ósteo-articulares e a problemas posturais.
2 Insuficiência Cardíaca: É uma condição na qual a quantidade de sangue bombeada pelo coração a cada minuto (débito cardíaco) é insuficiente para suprir as demandas normais de oxigênio e de nutrientes do organismo. Refere-se à diminuição da capacidade do coração suportar a carga de trabalho.
3 Ressonância magnética: Exame que fornece imagens em alta definição dos órgãos internos do corpo através da utilização de um campo magnético.
4 Coração: Órgão muscular, oco, que mantém a circulação sangüínea.
5 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
6 Coluna vertebral:
7 Idiopática: 1. Relativo a idiopatia; que se forma ou se manifesta espontaneamente ou a partir de causas obscuras ou desconhecidas; não associado a outra doença. 2. Peculiar a um indivíduo.
8 Degenerativa: Relativa a ou que provoca degeneração.
9 Costas:
10 Órtese: Qualquer aparelho externo usado para imobilizar ou auxiliar os movimentos dos membros ou da coluna vertebral.
11 Hemodinâmica: Ramo da fisiologia que estuda as leis reguladoras da circulação do sangue nos vasos sanguíneos tais como velocidade, pressão etc.
12 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
13 Miocárdio: Tecido muscular do CORAÇÃO. Composto de células musculares estriadas e involuntárias (MIÓCITOS CARDÍACOS) conectadas, que formam a bomba contrátil geradora do fluxo sangüíneo. Sinônimos: Músculo Cardíaco; Músculo do Coração
14 Descompressão: Ato ou efeito de descomprimir, de aliviar o que está sob efeito de pressão ou de compressão.
15 Hipercolesterolemia: Aumento dos níveis de colesterol do sangue. Está associada a uma maior predisposição ao desenvolvimento de aterosclerose.
16 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
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