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Estudo aponta maior risco de câncer cerebral após exame de tomografia computadorizada na infância

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Houve um risco crescente de câncer1 cerebral associado ao aumento da dose de radiação no cérebro2 por conta de exames de tomografia computadorizada3 (TC), indicou um estudo de coorte4 de mais de 650.000 crianças e adultos jovens publicado no The Lancet Oncology.

Os pesquisadores observaram uma relação dose-resposta significativa, de modo que, para cada 10.000 pessoas que receberam uma única tomografia computadorizada3 do crânio5, aproximadamente um paciente desenvolveu câncer1 cerebral atribuível à exposição à radiação nos 5 a 15 anos seguintes ao exame, relataram Michael Hauptmann, PhD, bioestatístico da Brandenburg Medical School em Neuruppin, Alemanha, e colegas do estudo EPI-CT.

“Para colocar essa descoberta em contexto, o número de exames de TC do crânio5 pediátrica por ano durante a última década provavelmente excede 1 milhão na União Europeia e 5 milhões nos EUA”, relataram eles.

“Apenas uma pequena fração dos cânceres cerebrais atribuíveis pode ser evitável (ou seja, aqueles com doses desnecessariamente altas durante os exames de TC ou o grupo presumivelmente maior com exames de TC clinicamente injustificados)”, escreveram Hauptmann e seus colegas. “No entanto, esses números enfatizam a necessidade de aderir aos princípios básicos de proteção radiológica na medicina, ou seja, justificativa (os procedimentos são apropriados e cumprem as diretrizes) e otimização (as doses são tão baixas quanto razoavelmente possível)”.

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De fato, o uso de TC já diminuiu nos últimos anos em meio a esforços para justificar e otimizar esses exames, de acordo com Nobuyuki Hamada, PhD, biólogo de radiação do Instituto Central de Pesquisa da Indústria de Energia Elétrica do Japão em Tóquio, e Lydia Zablotska, MD, PhD, especialista em radiação epidemiologista da University of California San Francisco.

“Esses esforços contínuos, juntamente com investigações epidemiológicas estendidas, seriam necessários para minimizar o risco de câncer1 cerebral após o exame de TC pediátrica”, escreveram eles em um editorial que acompanhou a publicação do estudo.

O estudo europeu EPI-CT visa quantificar os riscos de câncer1 por conta de exames de TC de crianças e adultos jovens. Na pesquisa em questão, avaliou-se o risco de câncer1 cerebral.

Os pesquisadores reuniram dados de nove países europeus para o estudo de coorte4. Os participantes elegíveis tiveram pelo menos um exame de TC antes dos 22 anos de idade documentado entre 1977 e 2014, não tinham diagnóstico6 prévio de câncer1 ou tumor7 cerebral benigno e estavam vivos e livres de câncer1 pelo menos 5 anos após a primeira TC.

Os participantes foram identificados por meio do Sistema de Informação em Radiologia em 276 hospitais. Os participantes foram vinculados a registros nacionais ou regionais de câncer1 e status vital, e os casos elegíveis eram pacientes com câncer1 cerebral de acordo com a Classificação Internacional de Doenças para Oncologia da OMS.

Gliomas foram analisados separadamente de todos os cânceres cerebrais. As doses recebidas pelos órgãos foram reconstruídas usando configurações históricas da máquina e uma grande amostra de imagens de TC.

Os excessos de riscos relativos (ERRs) de câncer1 cerebral por 100 mGy de dose cerebral cumulativa foram calculados com modelagem linear de resposta à dose. O resultado foi o primeiro diagnóstico6 relatado de câncer1 cerebral após um período de exclusão de 5 anos após o primeiro exame de TC registrado eletronicamente.

Identificou-se 948.174 indivíduos, dos quais 658.752 (69%) foram elegíveis para o estudo. 368.721 (56%) de 658.752 participantes eram do sexo masculino e 290.031 (44%) eram do sexo feminino. Durante um acompanhamento médio de 5,6 anos (IQR 2,4-10,1), ocorreram 165 cânceres cerebrais, incluindo 121 (73%) gliomas.

A dose cerebral cumulativa média, atrasada em 5 anos, foi de 47,4 mGy (DP 60,9) entre todos os indivíduos e 76,0 mGy (100,1) entre pessoas com câncer1 cerebral. Uma relação dose-resposta linear significativa foi observada para todos os cânceres cerebrais (ERR por 100 mGy 1,27 [IC 95% 0,51-2,69]) e para gliomas separadamente (ERR por 100 mGy 1,11 [0,36-2,59]).

Os resultados foram robustos quando o início do acompanhamento foi adiado além de 5 anos e quando os participantes com cânceres possivelmente não relatados anteriormente foram excluídos.

A significativa relação dose-resposta observada entre a exposição à radiação relacionada à tomografia computadorizada3 e o câncer1 cerebral neste grande estudo multicêntrico com avaliação de dose individual enfatiza a justificativa cuidadosa de tomografias computadorizadas pediátricas e o uso de doses tão baixas quanto razoavelmente possível.

Leia sobre "Câncer1 - informações importantes", "Câncer1 infantil" e "Tomografia computadorizada3".

 

Fontes:
The Lancet Oncology, publicação em 06 de dezembro de 2022.
MedPage Today, notícia publicada em 09 de dezembro de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Estudo aponta maior risco de câncer cerebral após exame de tomografia computadorizada na infância. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1430910/estudo-aponta-maior-risco-de-cancer-cerebral-apos-exame-de-tomografia-computadorizada-na-infancia.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.

Complementos

1 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
2 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
3 Tomografia computadorizada: Exame capaz de obter imagens em tons de cinza de “fatias†de partes do corpo ou de órgãos selecionados, as quais são geradas pelo processamento por um computador de uma sucessão de imagens de raios X de alta resolução em diversos segmentos sucessivos de partes do corpo ou de órgãos.
4 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
5 Crânio: O ESQUELETO da CABEÇA; compreende também os OSSOS FACIAIS e os que recobrem o CÉREBRO. Sinônimos: Calvaria; Calota Craniana
6 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
7 Tumor: Termo que literalmente significa massa ou formação de tecido. É utilizado em geral para referir-se a uma formação neoplásica.
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