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Probióticos na UTI foram associados a maior risco de infecções por cateter venoso central e morte

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Entre os pacientes com cateter venoso central na unidade de terapia intensiva1 (UTI), o uso de medicamentos probióticos2 foi associado a um aumento da incidência3 de infecções4 por cateter central e morte, mostrou um estudo retrospectivo5 publicado no CHEST Journal.

Em uma análise de mais de 23.000 pacientes, a taxa de mortalidade6 para aqueles com infecções4 por cateter venoso central associadas a probióticos2 (ICVCPs) foi de 25,5% em comparação com 13,4% para aqueles que não desenvolveram essas infecções4, relatou Scott Mayer, MD, do HCA HealthONE em Denver, durante uma apresentação na CHEST 2022, a reunião anual do American College of Chest Physicians.

“Nossos resultados sugerem que qualquer benefício potencial da administração de probióticos2 na UTI é superado pelo aumento do risco de mortalidade”, disse Mayer. “No mínimo, elimine as formulações em pó (probióticas) porque elas não oferecem nenhum benefício sobre os comprimidos e aumentam o risco de mortalidade6 por infecção”.

O estudo mostrou que as ICVCPs são duas vezes mais comuns entre os pacientes que recebem formulações em pó em comparação com outras formulações (0,76% vs. 0,33%), com Mayer observando que isso pode ser devido ao pó solto viajando pelo ar e contaminando o cateter central do paciente.

Leia sobre "Probióticos2 e Prebióticos", "Diferenças entre inflamação7 e infecção8" e "Infecção8 hospitalar".

Em entrevista ao MedPage Today, Mayer disse que o uso de probióticos2 na UTI não é incomum e muitas vezes é impulsionado pelas preferências do paciente.

“Os probióticos2 estão sendo usados hoje em dia para quase todas as condições que você pode imaginar e existem literalmente centenas de marcas e milhares de produtos diferentes”, acrescentou. “Se um paciente os toma para demência9, por exemplo, e acredita que o probiótico10 que está tomando está ajudando, eles vão querer continuar tomando-os na UTI”.

Apesar de sua popularidade, Mayer disse que há poucas pesquisas de qualidade mostrando que os probióticos2 funcionam para a longa lista de doenças que são usados para tratar, incluindo demência9, distúrbios digestivos e outros problemas gastrointestinais.

No artigo publicado, os pesquisadores contextualizam que os probióticos2 são uma classe de suplementos que contêm várias bactérias e fungos projetados para reabastecer o microbioma11 existente do trato gastrointestinal.

Eles ganharam popularidade significativa e são comercializados como remédios sem receita para inchaço12, diarreia13, constipação14, perda de peso e outras condições gastrointestinais. As indicações médicas aprovadas são muito mais restritas.

Da mesma forma, a ingestão de bactérias exógenas acarreta um risco de infecção8. Relatos de casos anteriores sugerem que esse risco é elevado em pacientes com cateteres venosos centrais.

O objetivo deste projeto foi investigar a incidência3 de infecções4 por cateter venoso central associadas a probióticos2 (ICVCPs) na unidade de terapia intensiva1 (UTI).

Uma coorte15 retrospectiva de pacientes com cateter venoso central que receberam probióticos2 na UTI foi coletada usando o banco de dados do HCA Healthcare, DATACLEAR. Para determinar a incidência3 de ICVCP, o número total de infecções4 definidas como hemoculturas positivas (organismos em crescimento encontrados em probióticos2 ingeridos) foi dividido pelo número de pessoas em risco definidas como pacientes tomando probióticos2 enquanto um cateter venoso central estava no lugar. A regressão logística foi realizada para a análise da mortalidade6.

Foram identificados 23.015 pacientes que preencheram os critérios de inclusão e exclusão. Destes, 86 ICVCPs foram identificadas (Incidência3 = 0,37%). A regressão logística demonstrou um aumento da taxa de mortalidade6 entre os pacientes que contraíram ICVCP versus aqueles que não contraíram (Odds Ratio = 2,23; 1,30-3,71, p <0,01). O subgrupo com cateteres venosos centrais protegidos (por exemplo, cateteres centrais de inserção periférica) teve uma mortalidade6 diminuída em comparação com o subgrupo não protegido.

Este estudo identificou a maior coleção de ICVCPs de qualquer estudo existente. A administração de probióticos2 em pacientes de UTI com cateteres venosos centrais está associada a um aumento da incidência3 de ICVCPs e a um aumento significativo na mortalidade6. É provável que os cateteres protegidos tenham risco reduzido de ICVCP e mortalidade6 subsequente devido à diminuição do risco de contaminação externa.

Dessa forma, o risco aumentado de bacteremia16 por medicamentos probióticos2 contendo organismos e o aumento associado na mortalidade6 superam os benefícios potenciais para pacientes17 com cateteres venosos centrais na UTI.

Veja também sobre "Bactérias do bem", "Microbioma11 intestinal humano" e "Os benefícios dos probióticos2".

 

Fontes:
CHEST Journal, Vol. 162, Nº 4, em 01 de outubro de 2022.
MedPage Today, notícia publicada em 19 de outubro de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Probióticos na UTI foram associados a maior risco de infecções por cateter venoso central e morte. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1428295/probioticos-na-uti-foram-associados-a-maior-risco-de-infeccoes-por-cateter-venoso-central-e-morte.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.

Complementos

1 Terapia intensiva: Tratamento para diabetes no qual os níveis de glicose são mantidos o mais próximo do normal possível através de injeções freqüentes ou uso de bomba de insulina, planejamento das refeições, ajuste em medicamentos hipoglicemiantes e exercícios baseados nos resultados de testes de glicose além de contatos freqüentes entre o diabético e o profissional de saúde.
2 Probióticos: Suplemento alimentar, rico em micro-organismos vivos, que afeta de forma benéfica seu consumidor, através da melhoria do balanço microbiano intestinal.
3 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
4 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
5 Retrospectivo: Relativo a fatos passados, que se volta para o passado.
6 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
7 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
8 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
9 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
10 Probiótico: Suplemento alimentar, rico em micro-organismos vivos, que afeta de forma benéfica seu consumidor, através da melhoria do balanço microbiano intestinal.
11 Microbioma: Comunidade ecológica de microrganismos comensais, simbióticos e patogênicos que compartilham nosso espaço corporal. Microbioma humano é o conjunto de microrganismos que reside no corpo do Homo sapiens, mantendo uma relação simbiótica com o hospedeiro. O conceito vai além do termo microbiota, incluindo também a relação entre as células microbianas e as células e sistemas humanos, por meio de seus genomas, transcriptomas, proteomas e metabolomas.
12 Inchaço: Inchação, edema.
13 Diarréia: Aumento do volume, freqüência ou quantidade de líquido nas evacuações.Deve ser a manifestação mais freqüente de alteração da absorção ou transporte intestinal de substâncias, alterações estas que em geral são devidas a uma infecção bacteriana ou viral, a toxinas alimentares, etc.
14 Constipação: Retardo ou dificuldade nas defecações, suficiente para causar desconforto significativo para a pessoa. Pode significar que as fezes são duras, difíceis de serem expelidas ou infreqüentes (evacuações inferiores a três vezes por semana), ou ainda a sensação de esvaziamento retal incompleto, após as defecações.
15 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
16 Bacteremia: Presença de bactérias no sangue, porém sem que as mesmas se multipliquem neste. Quando elas se multiplicam no sangue chamamos “septicemia”.
17 Para pacientes: Você pode utilizar este texto livremente com seus pacientes, inclusive alterando-o, de acordo com a sua prática e experiência. Conheça todos os materiais Para Pacientes disponíveis para auxiliar, educar e esclarecer seus pacientes, colaborando para a melhoria da relação médico-paciente, reunidos no canal Para Pacientes . As informações contidas neste texto são baseadas em uma compilação feita pela equipe médica da Centralx. Você deve checar e confirmar as informações e divulgá-las para seus pacientes de acordo com seus conhecimentos médicos.
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