Gostou do artigo? Compartilhe!

Gene associado ao risco de Alzheimer pode fornecer estratégia de tratamento para prevenir a perda de visão por glaucoma

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

Uma nova pesquisa liderada por cientistas da Harvard Medical School no Massachusetts Eye and Ear e no Brigham and Women's Hospital revela o papel que uma variante genética associada à doença de Alzheimer1, APOE4, desempenha na proteção contra o glaucoma2.

No novo estudo, publicado na revista Immunity, os pesquisadores também usaram um tratamento farmacológico para prevenir com sucesso a destruição de neurônios3 nos olhos4 de camundongos com glaucoma2, visando a via de sinalização APOE (apolipoproteína E).

Especificamente, os cientistas demonstraram que a variante do gene APOE4, que aumenta o risco de Alzheimer5, mas diminui o risco de glaucoma2 em humanos, bloqueia uma cascata da doença que leva à destruição das células6 ganglionares da retina7 no glaucoma2.

Além disso, eles mostraram em modelos separados de camundongos que a morte das células6 ganglionares da retina7 – a causa da perda de visão8 no glaucoma2 – pode ser evitada usando medicamentos para inibir uma molécula chamada Galectina-3, que é regulada pelo gene APOE.

Esses achados em conjunto enfatizam o papel crítico da APOE no glaucoma2 e sugerem que os inibidores da Galectina-3 são promissores como tratamento para o glaucoma2, de acordo com os autores.

Saiba mais sobre "O que é glaucoma2" e "Genética - conceitos básicos".

“Nossa pesquisa fornece uma maior compreensão do caminho genético que leva à cegueira irreversível no glaucoma2 e, mais importante, aponta para um possível tratamento para abordar a causa raiz da perda de visão”, disse a principal autora do estudo, Milica Margeta, professora assistente de oftalmologia na HMS e especialista em glaucoma2 e cientista no Mass Eye and Ear.

“Este estudo mostra que a cascata da doença mediada pela APOE é claramente prejudicial no glaucoma2 e que, quando você interfere nela geneticamente ou farmacologicamente, pode realmente interromper a doença”.

No artigo publicado, os pesquisadores relatam como a apolipoproteína E4 prejudica a resposta da micróglia neurodegenerativa da retina7 e previne a perda neuronal no glaucoma2.

Destaques

  • A micróglia muda de um fenótipo9 homeostático para um neurodegenerativo no glaucoma2.
  • Apoe e APOE3 induzem Galectina-3, um efetor chave da micróglia neurodegenerativa.
  • A micróglia retiniana Apoe−/− e APOE4 tem uma resposta diminuída à neurodegeneração.
  • O alelo APOE410 protege contra a perda de células6 ganglionares da retina7 no glaucoma2.

Resumo

O alelo11 da apolipoproteína E4 (APOE4) está associado a um risco aumentado de doença de Alzheimer1 e a um risco diminuído de glaucoma2, mas os mecanismos subjacentes permanecem pouco compreendidos.

Neste estudo, descobriu-se que em dois modelos de glaucoma2 em camundongos, a micróglia transitou para um fenótipo9 neurodegenerativo caracterizado pela regulação positiva de Apoe e Lgals3 (Galectina-3), que também foram reguladas positivamente em retinas glaucomatosas humanas.

Camundongos com deleção direcionada de Apoe na micróglia ou carregando o alelo APOE410 humano foram protegidos da perda de células6 ganglionares da retina7 (CGR), apesar da pressão intraocular12 (PIO) elevada.

Similarmente à micróglia da retina7 Apoe−/−, a micróglia que expressa APOE4 não regulou positivamente os genes associados à neurodegeneração, incluindo Lgals3, após a elevação da PIO.

O direcionamento genético e farmacológico da degeneração13 das CGR melhorada pela Galectina-3, e da expressão de Galectina-3 foi atenuada em amostras humanas de glaucoma2 APOE4.

Esses resultados demonstram que a ativação prejudicada da micróglia APOE4 é protetora no glaucoma2 e que a sinalização APOE – Galectina-3 pode ser direcionada para tratar essa doença com potencial de causar cegueira.

Leia sobre "Doenças degenerativas14" e "Deficiência visual".

 

Fontes:
Immunity, publicação em 16 de agosto de 2022.
Harvard Medical School, notícia publicada em 16 de agosto de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Gene associado ao risco de Alzheimer pode fornecer estratégia de tratamento para prevenir a perda de visão por glaucoma. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1423710/gene-associado-ao-risco-de-alzheimer-pode-fornecer-estrategia-de-tratamento-para-prevenir-a-perda-de-visao-por-glaucoma.htm>. Acesso em: 18 abr. 2024.

Complementos

1 Doença de Alzheimer: É uma doença progressiva, de causa e tratamentos ainda desconhecidos que acomete preferencialmente as pessoas idosas. É uma forma de demência. No início há pequenos esquecimentos, vistos pelos familiares como parte do processo normal de envelhecimento, que se vão agravando gradualmente. Os pacientes tornam-se confusos e por vezes agressivos, passando a apresentar alterações da personalidade, com distúrbios de conduta e acabam por não reconhecer os próprios familiares e até a si mesmos quando colocados frente a um espelho. Tornam-se cada vez mais dependentes de terceiros, iniciam-se as dificuldades de locomoção, a comunicação inviabiliza-se e passam a necessitar de cuidados e supervisão integral, até mesmo para as atividades elementares como alimentação, higiene, vestuário, etc..
2 Glaucoma: É quando há aumento da pressão intra-ocular e danos ao nervo óptico decorrentes desse aumento de pressão. Esses danos se expressam no exame de fundo de olho e por alterações no campo de visão.
3 Neurônios: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO. Sinônimos: Células Nervosas
4 Olhos:
5 Alzheimer: Doença degenerativa crônica que produz uma deterioração insidiosa e progressiva das funções intelectuais superiores. É uma das causas mais freqüentes de demência. Geralmente começa a partir dos 50 anos de idade e tem incidência similar entre homens e mulheres.
6 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
7 Retina: Parte do olho responsável pela formação de imagens. É como uma tela onde se projetam as imagens: retém as imagens e as traduz para o cérebro através de impulsos elétricos enviados pelo nervo óptico. Possui duas partes: a retina periférica e a mácula.
8 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
9 Fenótipo: Características apresentadas por um indivíduo sejam elas morfológicas, fisiológicas ou comportamentais. Também fazem parte do fenótipo as características microscópicas e de natureza bioquímica, que necessitam de testes especiais para a sua identificação, como, por exemplo, o tipo sanguíneo do indivíduo.
10 Alelo APOE4: Os polimorfismos no gene da apolipoproteína E (APOE) são importantes fatores de risco para o desenvolvimento da doença de Alzheimer (DA). Em humanos, existem três alelos principais do gene APOE, decorrentes de apenas duas alterações no DNA, chamados de épsilon2, épsilon3 e épsilon4.
11 Alelo: 1. Que ocupa os mesmos loci (locais) nos cromossomos (diz-se de gene). 2. Em genética, é cada uma das formas que um gene pode apresentar e que determina características diferentes.
12 Pressão intraocular: É a medida da pressão dos olhos. É a pressão do líquido dentro do olho.
13 Degeneração: 1. Ato ou efeito de degenerar (-se). 2. Perda ou alteração (no ser vivo) das qualidades de sua espécie; abastardamento. 3. Mudança para um estado pior; decaimento, declínio. 4. No sentido figurado, é o estado de depravação. 5. Degenerescência.
14 Degenerativas: Relativas a ou que provocam degeneração.
Gostou do artigo? Compartilhe!