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A infertilidade em alguns homens pode ser causada por mutações no cromossomo X

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Um estudo internacional, publicado no The American Journal of Human Genetics, identificou mais de 50 genes no cromossomo1 X em que mutações podem causar baixa produção de espermatozoides2.

Quase metade de todos os homens com contagem de espermatozoides2 baixa ou zero não tem explicação médica para sua infertilidade3. Nos últimos anos, estudos identificaram três genes do cromossomo1 X que podem estar envolvidos em problemas de produção de espermatozoides2. Mas Csilla Krausz, da Universidade de Florença, na Itália, se perguntou se poderia haver outros genes no cromossomo1 X que desempenham um papel.

Krausz e seus colegas fizeram análises genéticas em 2.354 homens com menos de 10.000 espermatozoides2 por mililitro de sêmen4 e compararam os resultados com os de outros 209 homens com contagens normais de espermatozoides2 de até 200 milhões por mililitro. O estudo não incluiu pessoas transgênero ou não-binárias. Os homens vieram de toda a Europa e tinham diversas idades e etnias. Antes do estudo, seus médicos não haviam encontrado nenhuma causa para a contagem baixa ou ausência de espermatozoides2 dos afetados.

A análise descobriu centenas de genes mutantes nos cromossomos5 X dos homens inférteis, incluindo os três previamente identificados em estudos anteriores. Por meio de uma investigação mais aprofundada, os pesquisadores focaram a atenção em 21 novos genes que eles consideraram culpados particularmente fortes pela má produção de espermatozoides2.

A maioria das mutações nesses genes afetou a maneira como as células6 testiculares dos homens se dividem para produzir espermatozoides2, e os pesquisadores as encontraram repetidamente nesses homens – bem como em algumas moscas e camundongos machos inférteis.

Saiba mais sobre "Infertilidade3 masculina", "Mutações genéticas" e "Espermograma - como é o exame e quando fazer".

A equipe também determinou outros 34 genes do cromossomo1 X em que as mutações provavelmente estavam envolvidas na infertilidade3 masculina e devem ser investigadas mais profundamente.

Como as pessoas atribuídas ao sexo masculino no nascimento herdam um cromossomo1 X de sua mãe e um cromossomo1 Y de seu pai, isso significa que a infertilidade3 relacionada aos espermatozoides2 pode ser transmitida de mães para filhos, diz Krausz. Mas as mutações também podem ocorrer espontaneamente durante o desenvolvimento do óvulo7 ou do embrião, acrescenta ela.

“As pessoas costumam pensar no cromossomo1 X como um cromossomo1 feminino, porque as mulheres têm dois cromossomos5 X”, diz ela. “Então, inicialmente, ninguém estava realmente pensando que o cromossomo1 X poderia estar tão envolvido na aptidão reprodutiva masculina. Mas nossas descobertas estão de acordo com a teoria de que o cromossomo1 X é importante para a reprodução8 masculina”.

Na maioria dos casos, as mutações genéticas levam a baixas contagens de espermatozoides2, por isso ainda é possível que esses homens tenham filhos – geralmente com assistência médica – e passem a mutação9 para suas filhas. As filhas teriam então uma chance de 50/50 de passar a mutação9 para seus filhos, dependendo de qual cromossomo1 X elas transmitirem.

“Tivemos casos em que tínhamos dois irmãos”, diz Krausz. “Um irmão foi o azarado porque ele pegou o gene mutado, e o outro irmão tinha o cromossomo1 X bom, sem a mutação9.”

Com uma melhor compreensão das mutações que causam a infertilidade3, os médicos podem usar testes genéticos para diagnosticar as causas da baixa contagem de espermatozoides2 e escolher os tratamentos mais adequados.

No artigo publicado, os pesquisadores relatam que, embora a história evolutiva do cromossomo1 X indique sua especialização na aptidão masculina, seu papel na espermatogênese tem sido amplamente inexplorado. Atualmente, apenas três genes do cromossomo1 X são considerados de valor diagnóstico10 moderado-definitivo.

O objetivo do estudo, portanto, foi fornecer uma análise abrangente de todos os genes codificadores de proteínas11 ligadas ao cromossomo1 X em 2.354 homens azoospérmicos / criptozoospérmicos de quatro coortes independentes.

Os dados genômicos foram analisados e comparados com dados de indivíduos controle normozoospérmicos e do Banco de Dados de Agregação de Genoma (gnomAD).

Ao atualizar o significado clínico de genes conhecidos, foram propostos 21 genes recorrentemente mutados fortemente associados e 34 moderadamente associados a azoospermia12 / criptozoospermia não previamente ligados à infertilidade3 masculina.

O gene priorizado mais frequentemente afetado, RBBP7, foi encontrado mutado em dez homens em todas as coortes, e os estudos funcionais em Drosophila apoiam seu papel na manutenção de células-tronco13 germinativas.

Coletivamente, o estudo representa um passo significativo para a definição da etiologia14 genética ausente na falha espermatogênica grave idiopática15 e reduz significativamente a lacuna de conhecimento das causas genéticas ligadas ao X de azoospermia12 / criptozoospermia, contribuindo para o desenvolvimento de futuros painéis de diagnósticos genéticos.

Leia sobre "Azoospermia12", "Genética - conceitos básicos" e "Diferença entre infertilidade3 e esterilidade16".

 

Fontes:
The American Journal of Human Genetics, publicação em 08 de julho de 2022.
New Scientist, notícia publicada em 08 de julho de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. A infertilidade em alguns homens pode ser causada por mutações no cromossomo X. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1420925/a-infertilidade-em-alguns-homens-pode-ser-causada-por-mutacoes-no-cromossomo-x.htm>. Acesso em: 20 abr. 2024.

Complementos

1 Cromossomo: Cromossomos (Kroma=cor, soma=corpo) são filamentos espiralados de cromatina, existente no suco nuclear de todas as células, composto por DNA e proteínas, sendo observável à microscopia de luz durante a divisão celular.
2 Espermatozóides: Células reprodutivas masculinas.
3 Infertilidade: Capacidade diminuída ou ausente de gerar uma prole. O termo não implica a completa inabilidade para ter filhos e não deve ser confundido com esterilidade. Os clínicos introduziram elementos físicos e temporais na definição. Infertilidade é, portanto, freqüentemente diagnosticada quando, após um ano de relações sexuais não protegidas, não ocorre a concepção.
4 Sêmen: Sêmen ou esperma. Líquido denso, gelatinoso, branco acinzentado e opaco, que contém espermatozoides e que serve para conduzi-los até o óvulo. O sêmen é o líquido da ejaculação. Ele é composto de plasma seminal e espermatozoides. Este plasma contém nutrientes que alimentam e protegem os espermatozoides.
5 Cromossomos: Cromossomos (Kroma=cor, soma=corpo) são filamentos espiralados de cromatina, existente no suco nuclear de todas as células, composto por DNA e proteínas, sendo observável à microscopia de luz durante a divisão celular.
6 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
7 Óvulo: Célula germinativa feminina (haplóide e madura) expelida pelo OVÁRIO durante a OVULAÇÃO.
8 Reprodução: 1. Função pela qual se perpetua a espécie dos seres vivos. 2. Ato ou efeito de reproduzir (-se). 3. Imitação de quadro, fotografia, gravura, etc.
9 Mutação: 1. Ato ou efeito de mudar ou mudar-se. Alteração, modificação, inconstância. Tendência, facilidade para mudar de ideia, atitude etc. 2. Em genética, é uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
10 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
11 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
12 Azoospermia: Ausência de espermatozódes no líquido seminal.
13 Células-tronco: São células primárias encontradas em todos os organismos multicelulares que retêm a habilidade de se renovar por meio da divisão celular mitótica e podem se diferenciar em uma vasta gama de tipos de células especializadas.
14 Etiologia: 1. Ramo do conhecimento cujo objeto é a pesquisa e a determinação das causas e origens de um determinado fenômeno. 2. Estudo das causas das doenças.
15 Idiopática: 1. Relativo a idiopatia; que se forma ou se manifesta espontaneamente ou a partir de causas obscuras ou desconhecidas; não associado a outra doença. 2. Peculiar a um indivíduo.
16 Esterilidade: Incapacidade para conceber (ficar grávida) por meios naturais. Suas causas podem ser masculinas, femininas ou do casal.
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