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Cirrose hepática foi associada a risco 37% maior de acidente vascular cerebral

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A cirrose hepática1 foi associada a um maior risco de acidente vascular cerebral2 em um grande estudo retrospectivo3, e a associação foi independente de fatores de risco cardiovascular estabelecidos, relatou a pesquisa.

No estudo de quase 1,3 milhão de indivíduos na Alemanha, a análise multivariada mostrou um risco 21% maior para qualquer evento cardiovascular – acidente vascular cerebral2 ou infarto do miocárdio4 (IM) – entre aqueles com versus sem cirrose5 (7,7% vs 5,9%), de acordo com Benjamin Maasoumy, MD, da Hannover Medical School, na Alemanha, que apresentou os resultados na reunião da Associação Europeia para o Estudo do Fígado6. O resumo do estudo foi publicado no Journal of Hepatology.

Mas olhar para os dois componentes individualmente revelou um risco 37% maior de acidente vascular cerebral2 no grupo de cirrose5, mas nenhum risco maior de infarto do miocárdio4:

  • AVC: 5,1% vs 3,5%
  • IM: 2,8% vs 2,6%

“Os resultados são importantes, mas precisam ser interpretados com cautela”, disse Omar Massoud, MD, PhD, da Cleveland Clinic em Ohio, ao MedPage Today.

“É possível que o aumento do AVC no grupo com cirrose5 esteja pelo menos parcialmente relacionado ao fato de os pacientes serem mais velhos e do sexo masculino”, observou ele. “Mesmo que os pesquisadores tenham ajustado alguns desses fatores de confusão, ainda não está claro quanto do aumento do AVC está realmente relacionado à cirrose”.

Saiba mais sobre "Cirrose5 Hepática1" e "Acidente Vascular Cerebral2 ou Derrame7 Cerebral".

Os pesquisadores observaram que a inflamação8 sistêmica tem sido associada a um risco aumentado de eventos cardiovasculares. A cirrose5 hepática1 está associada tanto à inflamação8 sistêmica quanto à disfunção endotelial. No entanto, uma possível ligação entre cirrose5 hepática1 e doenças cardiovasculares9 permanece pouco investigada.

O objetivo do estudo, portanto, foi analisar o risco de eventos cardiovasculares (infarto do miocárdio4 e acidente vascular cerebral2) em pacientes com cirrose5 hepática1 em comparação com pacientes sem cirrose5 em um estudo de base populacional do norte da Alemanha.

A análise foi baseada em dados administrativos de um grande fundo de seguro de saúde10 público alemão. Todos os indivíduos adultos segurados continuamente até a morte ou o final do período de observação (2010-2019) foram incluídos. Usou-se um período de pré-observação (2010–2012) para excluir indivíduos com eventos cardiovasculares anteriores ao início da observação em 2013.

A presença de cirrose5 hepática1 e fatores de risco cardiovascular foram identificados por meio de códigos CID-10. Infarto do miocárdio4 e acidente vascular cerebral2 foram analisados como um ponto final composto e individual.

Para determinar o risco de eventos cardiovasculares em pacientes com cirrose5 hepática1, usou-se uma regressão de Cox multivariável ajustada para idade, sexo e fatores de risco cardiovascular selecionados (hipertensão11, insuficiência cardíaca12, aterosclerose13, cardiopatia isquêmica14 crônica, obesidade15, abuso de nicotina, dislipidemia, diabetes16, abuso de álcool e insuficiência renal17 crônica com diálise18).

Um número de 1,29 milhões de pacientes foram incluídos. A cirrose5 hepática1 estava presente em 6.517 indivíduos (0,51%) no início da observação em 2013. Os indivíduos com cirrose5 hepática1 eram mais velhos (62,8 vs. 55,9 anos), mais frequentemente do sexo masculino (60,4% vs. 44,6%) e tinham mais comorbidades19 (por exemplo, abuso de álcool 39,5% vs. 2,3% ou aterosclerose13 11,3% vs. 5,4%).

A incidência20 geral de eventos cardiovasculares foi significativamente maior entre os pacientes com cirrose5 (7,7% vs 5,9%, p <0,001). Essa diferença também foi documentada ao limitar a análise à incidência20 de AVC (5,1% vs 3,5%, p <0,001). Em contraste, os infartos do miocárdio21 ocorreram com frequência semelhante em indivíduos com e sem cirrose5 (2,8% vs 2,6%, p = 0,327).

Após o ajuste para potenciais fatores de confusão na análise de regressão de Cox multivariável, a cirrose5 hepática1 foi associada a um risco 20,9% e 37,3% maior de eventos cardiovasculares gerais (p <0,001) e AVC em particular, respectivamente, enquanto não houve diferença de risco em relação ao infarto do miocárdio4 (p = 0,703).

O estudo concluiu que a cirrose5 hepática1 está associada a um maior risco de acidente vascular cerebral2. É importante ressaltar que essa associação é independente de outros fatores de risco cardiovascular estabelecidos. Não foi possível demonstrar um risco correspondentemente mais elevado de infarto do miocárdio4.

Leia sobre "Doenças cardiovasculares9" e "Sete passos para um coração22 saudável".

 

Fontes:
Journal of Hepatology, Vol. 77, Sup. 1, em julho de 2022.
MedPage Today, notícia publicada em 25 de junho de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Cirrose hepática foi associada a risco 37% maior de acidente vascular cerebral. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1420045/cirrose-hepatica-foi-associada-a-risco-37-maior-de-acidente-vascular-cerebral.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.

Complementos

1 Hepática: Relativa a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
2 Acidente vascular cerebral: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
3 Retrospectivo: Relativo a fatos passados, que se volta para o passado.
4 Infarto do miocárdio: Interrupção do suprimento sangüíneo para o coração por estreitamento dos vasos ou bloqueio do fluxo. Também conhecido por ataque cardíaco.
5 Cirrose: Substituição do tecido normal de um órgão (freqüentemente do fígado) por um tecido cicatricial fibroso. Deve-se a uma agressão persistente, infecciosa, tóxica ou metabólica, que produz perda progressiva das células funcionalmente ativas. Leva progressivamente à perda funcional do órgão.
6 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
7 Derrame: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
8 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
9 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
10 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
11 Hipertensão: Condição presente quando o sangue flui através dos vasos com força maior que a normal. Também chamada de pressão alta. Hipertensão pode causar esforço cardíaco, dano aos vasos sangüíneos e aumento do risco de um ataque cardíaco, derrame ou acidente vascular cerebral, além de problemas renais e morte.
12 Insuficiência Cardíaca: É uma condição na qual a quantidade de sangue bombeada pelo coração a cada minuto (débito cardíaco) é insuficiente para suprir as demandas normais de oxigênio e de nutrientes do organismo. Refere-se à diminuição da capacidade do coração suportar a carga de trabalho.
13 Aterosclerose: Tipo de arteriosclerose caracterizado pela formação de placas de ateroma sobre a parede das artérias.
14 Cardiopatia isquêmica: Doença ocasionada por um déficit na circulação nas artérias coronarianas e outros defeitos capazes de afetar o aporte sangüíneo para o músculo cardíaco.É evidenciada por dor no peito, arritmias, morte súbita ou insuficiência cardíaca.
15 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
16 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
17 Insuficiência renal: Condição crônica na qual o corpo retém líquido e excretas pois os rins não são mais capazes de trabalhar apropriadamente. Uma pessoa com insuficiência renal necessita de diálise ou transplante renal.
18 Diálise: Quando os rins estão muito doentes, eles deixam de realizar suas funções, o que pode levar a risco de vida. Nesta situação, é preciso substituir as funções dos rins de alguma maneira, o que pode ser feito realizando-se um transplante renal, ou através da diálise. A diálise é um tipo de tratamento que visa repor as funções dos rins, retirando as substâncias tóxicas e o excesso de água e sais minerais do organismo, estabelecendo assim uma nova situação de equilíbrio. Existem dois tipos de diálise: a hemodiálise e a diálise peritoneal.
19 Comorbidades: Coexistência de transtornos ou doenças.
20 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
21 Miocárdio: Tecido muscular do CORAÇÃO. Composto de células musculares estriadas e involuntárias (MIÓCITOS CARDÍACOS) conectadas, que formam a bomba contrátil geradora do fluxo sangüíneo. Sinônimos: Músculo Cardíaco; Músculo do Coração
22 Coração: Órgão muscular, oco, que mantém a circulação sangüínea.
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