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Terapia combinada de relugolix oral uma vez ao dia melhorou significativamente a dor associada à endometriose

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A endometriose1 é uma causa comum de dor pélvica2 em mulheres, para a qual as opções de tratamento atuais são subótimas. Neste estudo publicado pelo The Lancet, o relugolix, um antagonista3 oral do receptor do hormônio4 liberador de gonadotropina, combinado com estradiol e uma progestina, foi avaliado para o tratamento da dor associada à endometriose1.

Nestes dois ensaios replicados, de fase 3, multicêntricos, randomizados, duplo-cegos, controlados por placebo5 em 219 centros de pesquisa comunitários e hospitalares na África, Australásia, Europa, América do Norte e América do Sul, designou-se aleatoriamente mulheres com idades entre 18 e 50 anos com endometriose1 visualizada cirurgicamente ou diretamente com ou sem confirmação histológica6, ou com diagnóstico7 histológico8 isolado.

As participantes eram elegíveis se tivessem dor moderada a grave associada à endometriose1 e, durante o período de pré-inclusão de 35 dias, uma pontuação na Escala de Estimativa Numérica (Numeric Rating Scale - NRS) de dismenorreia9 de 4,0 ou superior em dois ou mais dias e uma pontuação média na NRS de dor pélvica2 não menstrual de 2,5 ou superior, ou uma pontuação média de 1,25 ou superior que incluísse uma pontuação de 5 ou mais em 4 ou mais dias.

Saiba mais sobre "Endometriose1: quais as causas" e "Dor pélvica2".

As mulheres receberam (1:1:1) placebo5 oral uma vez ao dia, terapia combinada10 de relugolix (40 mg de relugolix, 1 mg de estradiol, 0,5 mg de acetato de noretisterona) ou terapia combinada10 de relugolix tardia (monoterapia de 40 mg de relugolix seguida de terapia combinada10 de relugolix, cada uma por 12 semanas) por 24 semanas.

Durante o período randomizado11, duplo-cego, de tratamento e acompanhamento, todas os pacientes, pesquisadores e funcionários ou representantes do patrocinador envolvidos na condução do estudo foram mascarados para a atribuição do tratamento.

Os desfechos co-primários foram as taxas de resposta na semana 24 para dismenorreia9 e dor pélvica2 não menstrual, ambas com base nas pontuações da NRS e no uso de analgésicos12.

A eficácia e a segurança foram analisadas na população de intenção de tratamento modificada (pacientes randomizadas que receberam ≥1 dose do medicamento do estudo).

As pacientes elegíveis que completaram os estudos SPIRIT podiam se inscrever em um estudo de extensão aberto de 80 semanas atualmente em andamento (SPIRIT EXTENSION). O bloqueio do banco de dados para a duração do tratamento ocorreu e o acompanhamento pós-tratamento para segurança, especificamente para densidade mineral óssea e recuperação da menstruação13, estava em andamento no momento da publicação.

638 pacientes foram inscritas no SPIRIT 1 e designadas aleatoriamente entre 7 de dezembro de 2017 e 4 de dezembro de 2019 para receber terapia combinada10 de relugolix (212 [33%]), placebo5 (213 [33%]) ou terapia combinada10 de relugolix tardia (213 [33%]).

623 pacientes foram inscritas no SPIRIT 2 e foram aleatoriamente designadas entre 1º de novembro de 2017 e 4 de outubro de 2019 para receber terapia combinada10 de relugolix (208 [33%]), placebo5 (208 [33%]) ou terapia combinada10 de relugolix tardia (207 [33%]).

98 (15%) pacientes encerraram a participação no estudo precocemente no SPIRIT 1 e 115 (18%) no SPIRIT 2.

No SPIRIT 1, 158 (75%) de 212 pacientes no grupo de terapia combinada10 de relugolix preencheram os critérios de resposta à dismenorreia9 em comparação com 57 (27%) de 212 pacientes no grupo placebo5 (diferença de tratamento 47,6% [IC 95% 39,3-56,0]; p <0,0001).

No SPIRIT 2, 155 (75%) de 206 pacientes no grupo de terapia combinada10 de relugolix responderam à dismenorreia9 em comparação com 62 (30%) de 204 pacientes no grupo placebo5 (diferença de tratamento 44,9% [IC 95% 36,2-53,5]; p <0,0001).

No SPIRIT 1, 124 (58%) de 212 pacientes no grupo de terapia combinada10 de relugolix preencheram os critérios de resposta à dor pélvica2 não menstrual versus 84 (40%) pacientes no grupo placebo5 (diferença de tratamento 18,9% [9,5-28,2]; p <0·0001).

No SPIRIT 2, 136 (66%) de 206 pacientes responderam à dor pélvica2 não menstrual no grupo de terapia combinada10 de relugolix em comparação com 87 (43%) de 204 pacientes no grupo placebo5 (diferença de tratamento 23,4% [IC 95% 13,9-32,8]; p <0,0001).

Os eventos adversos mais comuns foram cefaleia14, nasofaringite e ondas de calor. Houve nove relatos de ideação suicida em ambos os estudos (dois no período de pré-inclusão com placebo5, dois no grupo placebo5, dois no grupo de terapia combinada10 de relugolix e três no grupo de terapia combinada10 de relugolix tardia). Nenhuma morte foi relatada.

A alteração percentual média dos mínimos quadrados na densidade mineral óssea da coluna lombar nos grupos de terapia combinada10 de relugolix versus placebo5 foi de -0,70% versus 0,21% no SPIRIT 1 e -0,78% versus 0,02% no SPIRIT 2, e no grupo de combinação de relugolix tardia foi de -2,0% no SPIRIT 1 e -1,9% no SPIRIT 2.

Foram observadas diminuições no uso de opioides em pacientes tratadas em comparação com placebo5.

O estudo concluiu que a terapia combinada10 de relugolix uma vez ao dia melhorou significativamente a dor associada à endometriose1 e foi bem tolerada.

Essa terapia oral tem o potencial de atender à necessidade clínica não atendida de tratamento médico de longo prazo para endometriose1, reduzindo a necessidade de uso de opioides ou tratamento cirúrgico repetido.

Leia sobre "Cólica menstrual ou dismenorreia9", "Como é a dor pélvica2 crônica" e "Dismenorreia9 membranosa".

 

Fonte: The Lancet, Vol. 399, Nº 10343, em 18 de junho de 2022.

 

NEWS.MED.BR, 2022. Terapia combinada de relugolix oral uma vez ao dia melhorou significativamente a dor associada à endometriose. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1419485/terapia-combinada-de-relugolix-oral-uma-vez-ao-dia-melhorou-significativamente-a-dor-associada-a-endometriose.htm>. Acesso em: 18 abr. 2024.

Complementos

1 Endometriose: Doença que acomete as mulheres em idade reprodutiva e consiste na presença de endométrio em locais fora do útero. Endométrio é a camada interna do útero que é renovada mensalmente pela menstruação. Os locais mais comuns da endometriose são: Fundo de Saco de Douglas (atrás do útero), septo reto-vaginal (tecido entre a vagina e o reto ), trompas, ovários, superfície do reto, ligamentos do útero, bexiga e parede da pélvis.
2 Pélvica: Relativo a ou próprio de pelve. A pelve é a cavidade no extremo inferior do tronco, formada pelos dois ossos do quadril (ilíacos), sacro e cóccix; bacia. Ou também é qualquer cavidade em forma de bacia ou taça (por exemplo, a pelve renal).
3 Antagonista: 1. Opositor. 2. Adversário. 3. Em anatomia geral, que ou o que, numa mesma região anatômica ou função fisiológica, trabalha em sentido contrário (diz-se de músculo). 4. Em medicina, que realiza movimento contrário ou oposto a outro (diz-se de músculo). 5. Em farmácia, que ou o que tende a anular a ação de outro agente (diz-se de agente, medicamento etc.). Agem como bloqueadores de receptores. 6. Em odontologia, que se articula em oposição (diz-se de ou qualquer dente em relação ao da maxila oposta).
4 Hormônio: Substância química produzida por uma parte do corpo e liberada no sangue para desencadear ou regular funções particulares do organismo. Por exemplo, a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que diz a outras células quando usar a glicose para energia. Hormônios sintéticos, usados como medicamentos, podem ser semelhantes ou diferentes daqueles produzidos pelo organismo.
5 Placebo: Preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição a um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações, geralmente de natureza psicológica, que acompanham tal procedimento terapêutico.
6 Histológica: Relativo à histologia, ou seja, relativo à disciplina biomédica que estuda a estrutura microscópica, composição e função dos tecidos vivos.
7 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
8 Histológico: Relativo à histologia, ou seja, relativo à disciplina biomédica que estuda a estrutura microscópica, composição e função dos tecidos vivos.
9 Dismenorréia: Dor associada à menstruação. Em uma porcentagem importante de mulheres é um sintoma normal. Em alguns casos está associada a doenças ginecológicas (endometriose, etc.).
10 Terapia combinada: Uso de medicações diferentes ao mesmo tempo (agentes hipoglicemiantes orais ou um agente hipoglicemiante oral e insulina, por exemplo) para administrar os níveis de glicose sangüínea em pessoas com diabetes tipo 2.
11 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
12 Analgésicos: Grupo de medicamentos usados para aliviar a dor. As drogas analgésicas incluem os antiinflamatórios não-esteróides (AINE), tais como os salicilatos, drogas narcóticas como a morfina e drogas sintéticas com propriedades narcóticas, como o tramadol.
13 Menstruação: Sangramento cíclico através da vagina, que é produzido após um ciclo ovulatório normal e que corresponde à perda da camada mais superficial do endométrio uterino.
14 Cefaleia: Sinônimo de dor de cabeça. Este termo engloba todas as dores de cabeça existentes, ou seja, enxaqueca ou migrânea, cefaleia ou dor de cabeça tensional, cefaleia cervicogênica, cefaleia em pontada, cefaleia secundária a sinusite, etc... são tipos dentro do grupo das cefaleias ou dores de cabeça. A cefaleia tipo tensional é a mais comum (acomete 78% da população), seguida da enxaqueca ou migrânea (16% da população).
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