Teste genético consegue detectar mutação que leva à surdez induzida por antibióticos em bebês
Um teste genético dá resultados em meia hora para mostrar se uma pessoa pode ficar surda em resposta a certos antibióticos, e pode ser usado para bebês1 com suspeita de sepse2 que precisam de tratamento rápido, segundo novo estudo publicado no JAMA Pediatrics.
Ocasionalmente, as crianças ficam surdas como resultado do tratamento com antibióticos. Agora, um teste genético rápido foi lançado para identificar aqueles que são vulneráveis a tais danos no ouvido, para que antibióticos alternativos possam ser administrados.
O teste entrega o resultado em 26 minutos, o que significa que pode ser feito com rapidez suficiente para orientar o que fazer para bebês1 com suspeita de sepse2, que precisam de tratamento o mais rápido possível.
Cerca de uma em cada 500 pessoas tem uma mutação genética3 que faz com que o antibiótico gentamicina mate as células4 dentro do ouvido. Acredita-se que isso faça com que cerca de 14.000 pessoas em todo o mundo fiquem permanentemente surdas a cada ano.
Apesar do efeito raro, a gentamicina é o tratamento recomendado para a sepse2 – uma reação exagerada do sistema imunológico5 à infecção6 com risco de vida – porque é eficaz contra as bactérias mais prováveis de serem a causa.
As pessoas que têm a mutação7 podem ser tratadas com diferentes antibióticos chamados cefalosporinas, que matam uma gama mais ampla de bactérias. Por causa disso, as cefalosporinas são mais propensas a desencadear resistência a antibióticos, portanto, não são tão comumente prescritas.
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Para verificar a mutação genética3, a maioria dos hospitais atualmente usa testes baseados em PCR8, que podem levar dias para retornar os resultados. A orientação para o tratamento de bebês1 com suspeita de sepse2 em hospitais na Inglaterra diz que os antibióticos devem ser iniciados dentro de 1 hora após os médicos reconhecerem que o tratamento é necessário.
O novo teste, que os hospitais do Manchester University NHS Foundation Trust começaram a usar rotineiramente desde o início de abril, é mais rápido porque usa uma técnica de teste genético diferente, chamada RT-LAMP.
Feito pela empresa britânica Genedrive, o teste foi usado em dois hospitais do Reino Unido. Dos 526 bebês1 que precisavam de tratamento para suspeita de sepse2, o teste não deu resultado em 17% dos casos, mas identificou três bebês1 com a mutação7 que os colocava em risco de surdez, e todos receberam o antibiótico alternativo, de acordo com o estudo publicado recentemente. “Temos três pessoas que passarão a vida com a audição intacta que seriam surdas se não tivessem feito esse teste, diz David Budd, da Genedrive.
Testes genéticos como este devem ser mais amplamente utilizados, de acordo com um relatório divulgado pela Sociedade Farmacológica Britânica e pelo Royal College of Physicians. O relatório descobriu que existem 40 medicamentos comumente usados em que os testes genéticos podem ajudar a orientar o tratamento.
No futuro, os bebês1 poderão ter um painel desses testes realizados quando nascerem, para que não haja espera pelos resultados, diz a coautora do estudo Emma Magavern, da Queen Mary University of London. “Isso afetaria o tratamento deles pelo resto da vida.”
No estudo, os autores buscaram descobrir se a tecnologia de genotipagem rápida no local de atendimento poderia ser implementada no ambiente neonatal agudo9 para evitar a ototoxicidade10 induzida por aminoglicosídeos sem interromper os padrões normais de atendimento.
Os aminoglicosídeos são antibióticos comumente prescritos usados para o tratamento da sepse2 neonatal. A variante m.1555A>G do gene MT-RNR1 predispõe à ototoxicidade10 induzida por aminoglicosídeos (OIA). As abordagens atuais de genotipagem levam vários dias, o que é inviável em situações agudas.
Nesse contexto, o objetivo foi desenvolver um teste rápido no local de atendimento (TRLA) para a variante m.1555A>G antes da implementação desta tecnologia no cenário neonatal agudo9 para orientar a prescrição de antibióticos e evitar OIA.
Este ensaio de implementação prospectivo11 pragmático recrutou neonatos12 admitidos em 2 grandes unidades de terapia intensiva13 neonatal entre 6 de janeiro de 2020 e 30 de novembro de 2020, no Reino Unido.
Os neonatos12 foram testados para a variante m.1555A>G através do TRLA na admissão à unidade de terapia intensiva13 neonatal.
O desfecho primário avaliou a proporção de recém-nascidos testados com sucesso para a variante dentre todos os lactentes14 prescritos antibióticos. Os resultados secundários mediram se a implementação estava negativamente associada à prática clínica de rotina e ao desempenho do sistema. O estudo teve poder estatístico para detectar uma diferença significativa entre o tempo de administração de antibióticos antes e após a implementação do teste rápido para o MT-RNR1.
Um total de 751 recém-nascidos foram recrutados e tinham uma idade mediana (variação) de 2,5 (0-198) dias. O TRLA para o MT-RNR1 foi capaz de genotipar a variante m.1555A>G em 26 minutos.
A validação pré-clínica demonstrou uma sensibilidade de 100% (IC 95%, 93,9% - 100,0%) e especificidade também de 100% (IC 95%, 98,5% - 100,0%). Três participantes com a variante m.1555A>G foram identificados, todos os quais evitaram antibióticos aminoglicosídeos.
No geral, 424 crianças (80,6%) que receberam antibióticos foram testadas com sucesso para a variante, e o tempo médio para administração de antibióticos foi equivalente à prática anterior.
O estudo concluiu que o teste rápido no local de atendimento para o MT-RNR1 foi integrado sem interromper a prática clínica normal, e o genótipo15 foi usado para orientar a prescrição de antibióticos e evitar ototoxicidade10 induzida por aminoglicosídeos. Essa abordagem identificou a variante m.1555A>G em um prazo que permite mudar a prática atual, de modo que sua ampla adoção pode reduzir significativamente o fardo de ototoxicidade10 induzida por aminoglicosídeos.
Testes genéticos rápidos no local de atendimento podem ser usados para evitar a ototoxicidade10 induzida por aminoglicosídeos em recém-nascidos, e os médicos são capazes de integrar dados genéticos em sua prática de rotina no cenário agudo9.
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Fontes:
JAMA Pediatrics, publicação em 21 de março de 2022.
New Scientist, notícia publicada em 31 de março de 2022.