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Grande variedade de doenças imunomediadas foram associadas ao risco de câncer

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As doenças imunomediadas coletivamente foram associadas a um risco aumentado de câncer1, com riscos nem sempre isolados ao órgão envolvido, demonstrou um grande estudo de coorte2.

No geral, 48 doenças autoimunes3 comuns e outras condições imunomediadas foram associadas a um risco total modesto de câncer1, relatou Mingyang Song, MD, da Harvard T.H. Chan School of Public Health em Boston e colegas.

Na análise multivariável, três condições foram especificamente associadas a um risco total de câncer1 aumentado: colite4 ulcerativa, asma5 e colangite biliar primária, de acordo com os resultados do estudo publicado no JAMA Oncology.

Leia sobre "Câncer1: o que é" e "Doenças autoimunes3".

Uma série de doenças imunomediadas foram significativamente associadas a um aumento do risco de câncer1 nos órgãos envolvidos:

  • Asma5 / câncer1 de pulmão6: HR 1,34
  • Doença celíaca / câncer1 de intestino delgado7: HR 6,89
  • Colite4 ulcerativa / câncer1 colorretal (CCR): HR 1,73
  • Doença inflamatória intestinal / CCR: HR 1,54
  • Colangite biliar primária / câncer1 hepatobiliar8: HR 42,12
  • Hepatite9 autoimune10 / câncer1 hepatobiliar8: HR 21,26
  • Púrpura11 trombocitopênica idiopática12 (PTI) / câncer1 hematológico: HR 6,94

Mas o estudo também encontrou 13 condições associadas a cânceres em órgãos próximos e 12 associadas a cânceres em diferentes sistemas, incluindo:

  • Doença de Crohn13 / câncer1 hepatobiliar8: HR 4,01
  • Colite4 ulcerativa / câncer1 hepatobiliar8: HR 2,59
  • Colite4 ulcerativa / câncer1 de língua14: HR 3,49
  • Colite4 ulcerativa / câncer1 de próstata15: HR 1,45
  • Hepatite9 autoimune10 / câncer1 de língua14: HR 27,65
  • Hepatite9 autoimune10 / câncer1 de esôfago16: HR 9,28
  • PTI / câncer1 hepatobiliar8: HR 11,96
  • Distúrbios bolhosos / câncer1 de laringe17: HR 26,23
  • Doença de Graves ou tireoidite autoimune10 / câncer1 de tecidos moles: HR 9,19

“As descobertas sugerem que as doenças imunomediadas estão associadas ao risco de câncer1 nos níveis local e sistêmico18, apoiando o papel da imunorregulação local e sistêmica na carcinogênese”, escreveram Song e co-autores, e “podem informar pesquisas futuras elucidando o papel da imunorregulação e microbiota19 no desenvolvimento do câncer1.”

No artigo, os pesquisadores contextualizam que a regulação imunológica é importante para a carcinogênese; no entanto, os perfis de risco de câncer1 associados a doenças imunomediadas precisam de caracterização adicional.

Assim, o objetivo do estudo foi avaliar a associação prospectiva de 48 doenças imunomediadas com o risco de cânceres totais e individuais e a associação prospectiva de doenças imunomediadas específicas de órgãos com o risco de cânceres locais e extralocais.

O estudo de coorte2 prospectivo20 usou dados do estudo de coorte2 UK Biobank sobre adultos de 37 a 73 anos que foram recrutados em 22 centros de avaliação em todo o Reino Unido entre 1º de janeiro de 2006 e 31 de dezembro de 2010, com acompanhamento até 28 de fevereiro de 2019.

A associação de doenças imunomediadas com o risco de câncer1 foi avaliada com taxas de risco ​(HRs) multivariáveis e ICs de 95% após o ajuste para vários fatores de confusão potenciais usando regressão de riscos proporcionais de Cox com variação no tempo. A heterogeneidade nas associações de doenças imunomediadas específicas de órgãos com cânceres locais e extralocais foi avaliada usando o método de teste de contraste.

Um total de 478.753 participantes (idade média [DP], 56,4 [8,1] anos; 54% mulheres) foram incluídos no estudo. Durante 4.600.460 pessoas-ano de acompanhamento, um total de 2.834 casos de câncer1 foram documentados em 61.496 pacientes com doenças imunomediadas e 26.817 casos de câncer1 em 417.257 pacientes sem quaisquer doenças imunomediadas (HR multivariável, 1,08; IC de 95%, 1,04-1,12).

Cinco das doenças imunomediadas específicas de órgãos foram significativamente associadas a maior risco de cânceres locais, mas não extralocais: asma5 (HR, 1,34; IC de 95%, 1,14-1,56), doença celíaca (HR, 6,89; IC de 95%, 2,18 -21,75), púrpura11 trombocitopênica idiopática12 (HR, 6,94; IC de 95%, 3,94-12,25), colangite biliar primária (HR, 42,12; IC de 95%, 20,76-85,44) e hepatite9 autoimune10 (HR, 21,26; IC de 95%, 6,79-66,61) (P <0,002 para heterogeneidade).

Nove doenças imunomediadas foram associadas a um risco aumentado de câncer1 nos órgãos envolvidos (por exemplo, asma5 com câncer1 de pulmão6 [HR, 1,34; IC de 95%, 1,14-1,57; P <0,001] e doença celíaca com câncer1 de intestino delgado7 [HR, 6,89; IC de 95%, 2,18-21,75; P = 0,001]); 13 doenças imunomediadas foram associadas a um risco aumentado de câncer1 nos órgãos próximos (por exemplo, doença de Crohn13 com câncer1 de fígado21: [HR, 4,01; IC de 95%, 1,65-9,72; P = 0,002]) ou órgãos distantes (por exemplo, hepatite9 autoimune10 com câncer1 de língua14 [HR, 27,75; IC de 95%, 3,82-199,91; P = 0,001]) ou em sistemas diferentes (por exemplo, púrpura11 trombocitopênica idiopática12 com câncer1 de fígado21 [HR, 11,96; IC de 95%, 3,82-37,42; P <0,001]).

Veja também sobre "Câncer1 - informações importantes", "Câncer1 Colorretal" e "Asma5".

Neste estudo de coorte2, as doenças imunomediadas foram associadas a um risco aumentado de câncer1 total. As doenças imunomediadas específicas de órgãos tiveram associações mais fortes com o risco de cânceres locais do que os cânceres extralocais. As associações para doenças imunomediadas individuais foram amplamente específicas de órgãos, mas também foram observadas para alguns tipos de câncer1 em órgãos próximos e distantes ou em sistemas diferentes.

Esses resultados sugerem que as doenças imunomediadas estão associadas ao risco de câncer1 em nível local e sistêmico18, apoiando o papel da imunorregulação local e sistêmica no desenvolvimento do câncer1.

 

Fontes:
JAMA Oncology, publicação em 02 de dezembro de 2021. (doi:10.1001/jamaoncol.2021.5680)
MedPage Today, notícia publicada em 02 de dezembro de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2021. Grande variedade de doenças imunomediadas foram associadas ao risco de câncer. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1406720/grande-variedade-de-doencas-imunomediadas-foram-associadas-ao-risco-de-cancer.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.

Complementos

1 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
2 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
3 Autoimunes: 1. Relativo à autoimunidade (estado patológico de um organismo atingido por suas próprias defesas imunitárias). 2. Produzido por autoimunidade. 3. Autoalergia.
4 Colite: Inflamação da porção terminal do cólon (intestino grosso). Pode ser devido a infecções intestinais (a causa mais freqüente), ou a processos inflamatórios diversos (colite ulcerativa, colite isquêmica, colite por radiação, etc.).
5 Asma: Doença das vias aéreas inferiores (brônquios), caracterizada por uma diminuição aguda do calibre bronquial em resposta a um estímulo ambiental. Isto produz obstrução e dificuldade respiratória que pode ser revertida de forma espontânea ou com tratamento médico.
6 Pulmão: Cada um dos órgãos pareados que ocupam a cavidade torácica que tem como função a oxigenação do sangue.
7 Intestino delgado: O intestino delgado é constituído por três partes: duodeno, jejuno e íleo. A partir do intestino delgado, o bolo alimentar é transformado em um líquido pastoso chamado quimo. Com os movimentos desta porção do intestino e com a ação dos sucos pancreático e intestinal, o quimo é transformado em quilo, que é o produto final da digestão. Depois do alimento estar transformado em quilo, os produtos úteis para o nosso organismo são absorvidos pelas vilosidades intestinais, passando para os vasos sanguíneos.
8 Hepatobiliar: Diz-se do que se refere ao fígado e às vias biliares.
9 Hepatite: Inflamação do fígado, caracterizada por coloração amarela da pele e mucosas (icterícia), dor na região superior direita do abdome, cansaço generalizado, aumento do tamanho do fígado, etc. Pode ser produzida por múltiplas causas como infecções virais, toxicidade por drogas, doenças imunológicas, etc.
10 Autoimune: 1. Relativo à autoimunidade (estado patológico de um organismo atingido por suas próprias defesas imunitárias). 2. Produzido por autoimunidade. 3. Autoalergia.
11 Púrpura: Lesão hemorrágica de cor vinhosa, que não desaparece à pressão, com diâmetro superior a um centímetro.
12 Idiopática: 1. Relativo a idiopatia; que se forma ou se manifesta espontaneamente ou a partir de causas obscuras ou desconhecidas; não associado a outra doença. 2. Peculiar a um indivíduo.
13 Doença de Crohn: Doença inflamatória crônica do intestino que acomete geralmente o íleo e o cólon, embora possa afetar qualquer outra parte do intestino. A doença cursa com períodos de remissão sintomática e outros de agravamento. Na maioria dos casos, a doença de Crohn é de intensidade moderada e se torna bem controlada pela medicação, tornando possível uma vida razoavelmente normal para seu portador. A causa da doença de Crohn ainda não é totalmente conhecida. Os sintomas mais comuns são: dor abdominal, diarreia, perda de peso, febre moderada, sensação de distensão abdominal, perda de apetite e de peso.
14 Língua:
15 Próstata: Glândula que (nos machos) circunda o colo da BEXIGA e da URETRA. Secreta uma substância que liquefaz o sêmem coagulado. Está situada na cavidade pélvica (atrás da parte inferior da SÍNFISE PÚBICA, acima da camada profunda do ligamento triangular) e está assentada sobre o RETO.
16 Esôfago: Segmento muscular membranoso (entre a FARINGE e o ESTÔMAGO), no TRATO GASTRINTESTINAL SUPERIOR.
17 Laringe: É um órgão fibromuscular, situado entre a traqueia e a base da língua que permite a passagem de ar para a traquéia. Consiste em uma série de cartilagens, como a tiroide, a cricóide e a epiglote e três pares de cartilagens: aritnoide, corniculada e cuneiforme, todas elas revestidas de membrana mucosa que são movidas pelos músculos da laringe. As dobras da membrana mucosa dão origem às pregas vocais.
18 Sistêmico: 1. Relativo a sistema ou a sistemática. 2. Relativo à visão conspectiva, estrutural de um sistema; que se refere ou segue um sistema em seu conjunto. 3. Disposto de modo ordenado, metódico, coerente. 4. Em medicina, é o que envolve o organismo como um todo ou em grande parte.
19 Microbiota: Em ecologia, chama-se microbiota ao conjunto dos microrganismos que habitam um ecossistema, principalmente bactérias, protozoários e outros microrganismos que têm funções importantes na decomposição da matéria orgânica e, portanto, na reciclagem dos nutrientes. Fazem parte da microbiota humana uma quantidade enorme de bactérias que vivem em harmonia no organismo e auxiliam a ação do sistema imunológico e a nutrição, por exemplo.
20 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
21 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
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