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Demência e alimentos inflamatórios: estudo identifica risco três vezes maior de demência associado a dietas pobres em frutas, vegetais e legumes

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Dietas com maior potencial inflamatório foram associadas a um risco aumentado de demência1 incidente2, mostrou um estudo observacional prospectivo3.

Cada aumento de unidade nas pontuações do índice inflamatório da dieta foi associado a um risco 21% maior de demência1 ao longo de 3 anos, relatou Nikolaos Scarmeas, MD, PhD, da Columbia University em New York City e co-autores.

Em comparação com os participantes com as pontuações mais baixas de dieta inflamatória, aqueles com as pontuações mais altas tinham três vezes mais probabilidade de desenvolver demência1 incidente2, escreveram os pesquisadores no estudo publicado na revista Neurology.

“Uma dieta com um conteúdo mais anti-inflamatório parece estar relacionada a um menor risco de desenvolver demência1 nos 3 anos seguintes”, disse Scarmeas ao MedPage Today. Os tratamentos disponíveis para a demência1 não são muito eficazes, disse ele – “é muito importante que encontremos algumas medidas para preveni-la parcialmente.”

“A dieta pode desempenhar um papel no combate à inflamação4, uma das vias biológicas que contribuem para o risco de demência1 e prejuízo cognitivo5 mais tarde na vida”, acrescentou.

Leia sobre "O que é inflamação4", "Demência1" e "O que é uma alimentação saudável".

As evidências sugerem que certos alimentos, nutrientes e componentes alimentares não nutritivos podem modular o estado inflamatório de forma aguda e crônica. Pesquisas prospectivas anteriores analisaram o potencial inflamatório da dieta e o declínio cognitivo5 apenas em mulheres, não em ambos os sexos, observaram os pesquisadores.

O envelhecimento é caracterizado por uma mudança funcional do sistema imunológico6 em direção a um fenótipo7 pró-inflamatório. Esse distúrbio foi associado ao declínio cognitivo5 e implicado na patogênese8 da demência1. A dieta pode modular a inflamação4 sistêmica; portanto, pode ser uma ferramenta valiosa para neutralizar os riscos associados de comprometimento cognitivo5 e demência1.

O presente estudo teve como objetivo explorar as associações entre o potencial inflamatório da dieta, avaliado por meio de um índice inflamatório da dieta (IID) validado por biomarcadores, facilmente aplicável, de base populacional, e o risco de demência1 em idosos residentes na comunidade.

Indivíduos da Investigação Longitudinal Helênica de Envelhecimento e Dieta (HELIAD) foram incluídos no presente estudo de coorte9. Os participantes foram recrutados por meio de amostragem populacional aleatória e acompanhados por uma média de 3,05 (DP = 0,85) anos.

O diagnóstico10 de demência1 foi baseado em critérios clínicos padrão. Aqueles com demência1 inicial e/ou dados de acompanhamento cognitivo5 ausentes foram excluídos das análises.

O potencial inflamatório da dieta foi avaliado por meio de uma pontuação do IID que considera associações derivadas da literatura de 45 parâmetros alimentares com níveis de citocinas11 pró e anti-inflamatórias no sangue12; valores mais altos indicaram dieta mais pró-inflamatória.

As frequências de consumo foram derivadas de um questionário detalhado de frequência alimentar e foram padronizadas para dados normativos de ingestão dietética representativos de 11 países diferentes. A análise da incidência13 de demência1 em função das pontuações do IID iniciais foi realizada por modelos de riscos proporcionais de Cox.

As análises incluíram 1.059 indivíduos (idade média = 73,1 anos; 40,3% homens; escolaridade média = 8,2 anos), 62 dos quais desenvolveram demência1 incidente2.

Cada unidade adicional do IID foi associada a um aumento de 21% no risco de incidência13 de demência1 (HR = 1,21 [1,03 - 1,42]; p = 0,023]. Em comparação com os participantes no tercil mais baixo do IID, os participantes no tercil mais alto (potencial máximo de dieta pró-inflamatória) tiveram probabilidade 3 ([1,2 - 7,3]; p = 0,014) vezes maior de desenvolver demência1 incidente2.

O teste de tendência também foi significativo, indicando uma relação dose-resposta potencial (p = 0,014).

No presente estudo, pontuações do índice inflamatório da dieta mais altos (indicando maior potencial de dieta pró-inflamatória) foram associados a um risco aumentado de demência1 incidente2. Esses achados podem servir para o desenvolvimento de estratégias de prevenção primária da demência1 por meio de intervenções dietéticas personalizadas e precisas.

Veja também sobre "Como melhorar a sua alimentação", "Distúrbio neurocognitivo", "O processo de envelhecimento" e "Envelhecimento cerebral normal ou patológico".

 

Fontes:
Neurology, publicação em 10 de novembro de 2021.
MedPage Today, notícia publicada em 12 de novembro de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2021. Demência e alimentos inflamatórios: estudo identifica risco três vezes maior de demência associado a dietas pobres em frutas, vegetais e legumes. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1406465/demencia-e-alimentos-inflamatorios-estudo-identifica-risco-tres-vezes-maior-de-demencia-associado-a-dietas-pobres-em-frutas-vegetais-e-legumes.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.

Complementos

1 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
2 Incidente: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
3 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
4 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
5 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
6 Sistema imunológico: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
7 Fenótipo: Características apresentadas por um indivíduo sejam elas morfológicas, fisiológicas ou comportamentais. Também fazem parte do fenótipo as características microscópicas e de natureza bioquímica, que necessitam de testes especiais para a sua identificação, como, por exemplo, o tipo sanguíneo do indivíduo.
8 Patogênese: Modo de origem ou de evolução de qualquer processo mórbido; nosogenia, patogênese, patogenesia.
9 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
10 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
11 Citocinas: Citoquina ou citocina é a designação genérica de certas substâncias segregadas por células do sistema imunitário que controlam as reações imunes do organismo.
12 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
13 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
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