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Cirurgia bariátrica pode reduzir o risco de doença hepática grave

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A obesidade1 é a principal causa de doença hepática2 gordurosa. Os pacientes que passaram por cirurgia para perda de peso mostraram menos sinais3 de progressão da doença.

Um em cada quatro adultos americanos tem doença hepática2 gordurosa causada pela obesidade1, não por beber, e não há tratamento médico para isso. Os médicos dizem que a única maneira de controlá-la é perder peso e seguir uma dieta mais saudável.

Agora, um novo estudo relata que a cirurgia bariátrica4, além de ajudar na perda de peso, pode proteger o fígado5. As descobertas foram impressionantes: de um grupo de mais de 1.100 pacientes que tinham uma forma agressiva de doença hepática2 gordurosa, aqueles que passaram por cirurgia para perda de peso reduziram o risco de doença hepática2 avançada, câncer6 de fígado5 ou morte relacionada em quase 90 por cento ao longo da próxima década.

Apenas cinco dos 650 pacientes que passaram pela cirurgia bariátrica4 desenvolveram posteriormente um desses desfechos hepáticos graves, em comparação com 40 dos 508 pacientes que não fizeram o procedimento.

Os pacientes submetidos à cirurgia para perda de peso também apresentavam risco significativamente menor de doenças cardiovasculares7, uma descoberta que é consistente com pesquisas anteriores. Eles tinham 70 por cento menos probabilidade de sofrer um evento cardíaco, derrame8 ou insuficiência cardíaca9, ou morrer de doença cardíaca, de acordo com o estudo publicado no JAMA.

O Dr. Ali Aminian, diretor do Instituto Bariátrico e Metabólico da Cleveland Clinic e principal autor do estudo, disse que, com toda a probabilidade, a perda de peso interrompeu a evolução da doença.

“A obesidade1 é o principal fator do fígado5 gorduroso – tudo começa com a obesidade”, disse o Dr. Aminian. “Quando temos excesso de gordura10 que se acumula no fígado5, isso causa fígado5 gorduroso; então a inflamação11 vem e piora, e então o tecido12 cicatricial se forma e leva à cirrose13.

“Quando o paciente perde peso, a gordura10 sai de todos os lugares, inclusive do fígado5; a inflamação11 diminui e parte do tecido12 cicatricial pode se reverter e melhorar”, continuou o Dr. Aminian. “A perda de peso é o principal fator aqui.”

Os resultados foram notáveis, disse o Dr. Steven Nissen, diretor acadêmico do Instituto do Coração14 e Vascular15 da Cleveland Clinic e autor sênior16 do estudo.

O resultado da doença pós-cirúrgica “foi o mais baixo que vi em 30 anos de estudos, uma redução de 88 por cento na progressão para doença hepática2 avançada”, disse ele.

Saiba mais sobre "Obesidade1", "Cirurgia bariátrica4 - o que é", "Esteatose hepática17" e "Doenças cardiovasculares7".

No artigo publicado, os pesquisadores contextualizam como nenhuma terapia demonstrou reduzir o risco de resultados adversos graves em pacientes com esteatohepatite18 não alcoólica (ou doença hepática2 gordurosa não-alcoólica [DHGNA]) até o momento.

Assim, o objetivo do estudo foi investigar a relação de longo prazo entre a cirurgia bariátrica4 e os desfechos hepáticos adversos maiores e os eventos cardiovasculares adversos maiores (ECAM) em pacientes com obesidade1 e DHGNA fibrótica comprovada por biópsia19 sem cirrose13.

No estudo SPLENDOR (Surgical Procedures and Long-term Effectiveness in NASH Disease and Obesity Risk), de 25.828 biópsias20 hepáticas21 realizadas em um sistema de saúde22 dos EUA entre 2004 e 2016, 1.158 pacientes adultos com obesidade1 foram identificados que preencheram os critérios de inscrição, incluindo diagnóstico23 histológico24 confirmado de DHGNA e presença de fibrose25 hepática2 (estágios histológicos26 1-3).

As características clínicas iniciais, a atividade histológica27 da doença e o estágio de fibrose25 dos pacientes que foram submetidos à biópsia19 hepática2 simultânea no momento da cirurgia bariátrica4 foram equilibrados com um grupo de controle não cirúrgico usando métodos de ponderação por sobreposição. O acompanhamento terminou em março de 2021.

As exposições do estudo foram cirurgia bariátrica4 (bypass gástrico em Y de Roux, gastrectomia vertical) vs cuidados não cirúrgicos.

Os desfechos primários foram a incidência28 de desfechos hepáticos adversos maiores (progressão para cirrose13 clínica ou histológica27, desenvolvimento de carcinoma29 hepatocelular, transplante de fígado5 ou mortalidade30 relacionada ao fígado5) e ECAM (um composto de eventos coronarianos, eventos cerebrovasculares, insuficiência cardíaca9 ou morte cardiovascular), estimada usando o método penalizado de Firth em uma estrutura de análise de regressão de Cox ajustada por multivariáveis.

Um total de 1.158 pacientes (740 [63,9%] mulheres; idade mediana, 49,8 anos [IQR, 40,9-57,9 anos], índice de massa corporal31 mediano, 44,1 [IQR, 39,4-51,4]), incluindo 650 pacientes submetidos à cirurgia bariátrica4 e ​​508 pacientes do grupo controle não cirúrgico, com seguimento médio de 7 anos (IQR, 4-10 anos) foram analisados. A distribuição das covariáveis ​​da linha de base, incluindo a gravidade histológica27 da lesão32 hepática2, foi bem equilibrada após a ponderação de sobreposição.

No final do período de estudo no conjunto de dados não ponderados, 5 pacientes no grupo de cirurgia bariátrica4 e 40 pacientes no grupo de controle não cirúrgico experimentaram resultados hepáticos adversos maiores, e 39 pacientes no grupo de cirurgia bariátrica4 e 60 pacientes no grupo não cirúrgico experimentaram ECAM.

Entre os pacientes analisados ​​com métodos de ponderação de sobreposição, a incidência28 cumulativa de desfechos hepáticos adversos maiores em 10 anos foi de 2,3% (IC 95%, 0%-4,6%) no grupo de cirurgia bariátrica4 e 9,6% (IC 95%, 6,1%-12,9%) no grupo não cirúrgico (diferença de risco absoluta ajustada, 12,4% [IC 95%, 5,7%-19,7%]; razão de risco ajustada, 0,12 [IC 95%, 0,02-0,63]; P = 0,01).

A incidência28 cumulativa de ECAM em 10 anos foi de 8,5% (IC 95%, 5,5%-11,4%) no grupo de cirurgia bariátrica4 e 15,7% (IC 95%, 11,3%-19,8%) no grupo não cirúrgico (diferença de risco absoluta ajustada, 13,9% [IC 95%, 5,9%-21,9%]; razão de risco ajustada, 0,30 [IC 95%, 0,12-0,72]; P = 0,007).

No primeiro ano após a cirurgia bariátrica4, 4 pacientes (0,6%) morreram de complicações cirúrgicas, incluindo vazamento gastrointestinal (n = 2) e insuficiência respiratória33 (n = 2).

O estudo concluiu que, entre os pacientes com DHGNA e obesidade1, a cirurgia bariátrica4, em comparação com o manejo não cirúrgico, foi associada a um risco significativamente menor de ocorrência de desfechos hepáticos adversos maiores e eventos cardiovasculares adversos maiores.

Leia sobre "Tipos de Cirurgia Bariátrica4", "Esteatose34 metabólica", "Cirrose13 hepática2" e "Insuficiência hepática35".

 

Fontes:
JAMA, publicação em 11 de novembro de 2021. (doi:10.1001/jama.2021.19569)
The New York Times, notícia publicada em 11 de novembro de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2021. Cirurgia bariátrica pode reduzir o risco de doença hepática grave. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1405545/cirurgia-bariatrica-pode-reduzir-o-risco-de-doenca-hepatica-grave.htm>. Acesso em: 18 abr. 2024.

Complementos

1 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
2 Hepática: Relativa a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
3 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
4 Cirurgia Bariátrica:
5 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
6 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
7 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
8 Derrame: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
9 Insuficiência Cardíaca: É uma condição na qual a quantidade de sangue bombeada pelo coração a cada minuto (débito cardíaco) é insuficiente para suprir as demandas normais de oxigênio e de nutrientes do organismo. Refere-se à diminuição da capacidade do coração suportar a carga de trabalho.
10 Gordura: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Os alimentos que fornecem gordura são: manteiga, margarina, óleos, nozes, carnes vermelhas, peixes, frango e alguns derivados do leite. O excesso de calorias é estocado no organismo na forma de gordura, fornecendo uma reserva de energia ao organismo.
11 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
12 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
13 Cirrose: Substituição do tecido normal de um órgão (freqüentemente do fígado) por um tecido cicatricial fibroso. Deve-se a uma agressão persistente, infecciosa, tóxica ou metabólica, que produz perda progressiva das células funcionalmente ativas. Leva progressivamente à perda funcional do órgão.
14 Coração: Órgão muscular, oco, que mantém a circulação sangüínea.
15 Vascular: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
16 Sênior: 1. Que é o mais velho. 2. Diz-se de desportistas que já ganharam primeiros prêmios: um piloto sênior. 3. Diz-se de profissionais experientes que já exercem, há algum tempo, determinada atividade.
17 Esteatose hepática: Esteatose hepática ou “fígado gorduroso“ é o acúmulo de gorduras nas células do fígado.
18 Esteatohepatite: Esteatohepatite é o acúmulo de gorduras com inflamação do fígado.
19 Biópsia: 1. Retirada de material celular ou de um fragmento de tecido de um ser vivo para determinação de um diagnóstico. 2. Exame histológico e histoquímico. 3. Por metonímia, é o próprio material retirado para exame.
20 Biópsias: 1. Retirada de material celular ou de um fragmento de tecido de um ser vivo para determinação de um diagnóstico. 2. Exame histológico e histoquímico. 3. Por metonímia, é o próprio material retirado para exame.
21 Hepáticas: Relativas a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
22 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
23 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
24 Histológico: Relativo à histologia, ou seja, relativo à disciplina biomédica que estuda a estrutura microscópica, composição e função dos tecidos vivos.
25 Fibrose: 1. Aumento das fibras de um tecido. 2. Formação ou desenvolvimento de tecido conjuntivo em determinado órgão ou tecido como parte de um processo de cicatrização ou de degenerescência fibroide.
26 Histológicos: Relativo à histologia, ou seja, relativo à disciplina biomédica que estuda a estrutura microscópica, composição e função dos tecidos vivos.
27 Histológica: Relativo à histologia, ou seja, relativo à disciplina biomédica que estuda a estrutura microscópica, composição e função dos tecidos vivos.
28 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
29 Carcinoma: Tumor maligno ou câncer, derivado do tecido epitelial.
30 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
31 Índice de massa corporal: Medida usada para avaliar se uma pessoa está abaixo do peso, com peso normal, com sobrepeso ou obesa. É a medida mais usada na prática para saber se você é considerado obeso ou não. Também conhecido como IMC. É calculado dividindo-se o peso corporal em quilogramas pelo quadrado da altura em metros. Existe uma tabela da Organização Mundial de Saúde que classifica as medidas de acordo com o resultado encontrado.
32 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
33 Insuficiência respiratória: Condição clínica na qual o sistema respiratório não consegue manter os valores da pressão arterial de oxigênio (PaO2) e/ou da pressão arterial de gás carbônico (PaCO2) dentro dos limites da normalidade, para determinada demanda metabólica. Como a definição está relacionada à incapacidade do sistema respiratório em manter níveis adequados de oxigenação e gás carbônico, foram estabelecidos, para sua caracterização, pontos de corte na gasometria arterial: PaO2 50 mmHg.
34 Esteatose: Degenerescência gordurosa de um tecido.
35 Insuficiência hepática: Deterioração grave da função hepática. Pode ser decorrente de hepatite viral, cirrose e hepatopatia alcoólica (lesão hepática devido ao consumo de álcool) ou medicamentosa (causada por medicamentos como, por exemplo, o acetaminofeno). Para que uma insuficiência hepática ocorra, deve haver uma lesão de grande porção do fígado.
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