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Taxas de deficiências de neurodesenvolvimento entre crianças nascidas prematuras permaneceram altas aos 5 anos de idade, em estudo do The BMJ

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Pesquisa publicada pelo The British Medical Journal teve como objetivo descrever o neurodesenvolvimento aos 5 anos de idade em crianças nascidas prematuras.

O estudo de coorte1 de base populacional, EPIPAGE-2, foi realizado na França em 2011 e incluiu 4.441 crianças de 5 anos e meio de idade nascidas entre 24-26, 27-31 e 32-34 semanas de gestação.

As principais medidas de desfecho foram:

  • deficiências de neurodesenvolvimento graves / moderadas, definidas como paralisia2 cerebral grave / moderada (Sistema de Classificação da Função Motora Grossa [GMFCS] ≥2), ou cegueira ou surdez unilateral ou bilateral, ou quociente de inteligência3 em escala total inferior a menos dois desvios padrão (Escala de Inteligência de Wechsler para Idade Pré-escolar e Primária, 4ª edição).
  • deficiências de neurodesenvolvimento leves, definidas como paralisia2 cerebral leve (GMFCS -1), ou deficiência visual ≥3,2 / 10 e <5/10, ou perda auditiva <40 dB, ou quociente de inteligência3 em escala total de menos dois a menos um desvio padrão, ou distúrbios da coordenação do desenvolvimento (Bateria de Avaliação do Movimento para Crianças, 2ª edição, pontuação total menor ou igual ao quinto percentil), ou dificuldades comportamentais (questionário de forças e dificuldades, pontuação total maior ou igual ao 90º percentil), assistência escolar (aula regular com apoio ou escola especial), intervenções complexas de desenvolvimento e preocupações dos pais sobre o desenvolvimento.

As distribuições dos escores em crianças nascidas a termo contemporâneas foram utilizadas como referência. Os resultados são dados após imputação múltipla como porcentagens de medidas de desfecho com intervalos de confiança binomiais exatos de 95%.

Leia sobre "Desenvolvimento infantil", "Deficiência intelectual", "Distúrbios de aprendizagem escolar" e "Prematuridade e os cuidados necessários".

Entre 4.441 participantes, 3.083 (69,4%) crianças foram avaliadas. As taxas de deficiências de neurodesenvolvimento graves / moderadas foram de:

  • 28% (intervalo de confiança de 95%, 23,4% a 32,2%) para crianças nascidas entre 24-26 semanas
  • 19% (16,8% a 20,7%) para crianças nascidas entre 27-31 semanas
  • 12% (9,2% a 14,0%) para crianças nascidas entre 32-34 semanas

As taxas de deficiências de neurodesenvolvimento leves foram:

  • 38,5% (33,7% a 43,4%) para crianças nascidas entre 24-26 semanas
  • 36% (33,4% a 38,1%) para crianças nascidas entre 27-31 semanas
  • 34% (30,2% a 37,4%) para crianças nascidas entre 32-34 semanas

A assistência na escola foi usada por 27% (22,9% a 31,7%), 14% (12,1% a 15,9%) e 7% (4,4% a 9,0%) das crianças nascidas entre 24-26, 27-31 e 32-34 semanas, respectivamente.

Cerca de metade das crianças nascidas entre 24-26 semanas (52% [46,4% a 57,3%]) receberam pelo menos uma intervenção de desenvolvimento, que diminuiu para 26% (21,8% a 29,4%) para aquelas nascidas entre 32-34 semanas.

O comportamento foi a preocupação mais comumente relatada pelos pais. As taxas de deficiências de neurodesenvolvimento aumentaram com a diminuição da idade gestacional e foram maiores em famílias com baixo nível socioeconômico.

Nesta grande coorte4 de crianças nascidas prematuras, as taxas de deficiências de neurodesenvolvimento graves / moderadas permaneceram altas aos 5 anos de idade em cada grupo de idade gestacional.

Proporções de crianças que recebem assistência escolar ou intervenções complexas de desenvolvimento podem ter um impacto significativo nas organizações educacionais e de saúde5. As preocupações dos pais sobre o comportamento merecem atenção.

Veja também sobre "Transtorno de conduta", "Paralisia2 cerebral infantil" e "Dificuldades de adaptação das crianças à escola".

 

Fonte: The British Medical Journal, publicação em 28 de abril de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2021. Taxas de deficiências de neurodesenvolvimento entre crianças nascidas prematuras permaneceram altas aos 5 anos de idade, em estudo do The BMJ. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1393435/taxas-de-deficiencias-de-neurodesenvolvimento-entre-criancas-nascidas-prematuras-permaneceram-altas-aos-5-anos-de-idade-em-estudo-do-the-bmj.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.

Complementos

1 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
2 Paralisia: Perda total da força muscular que produz incapacidade para realizar movimentos nos setores afetados. Pode ser produzida por doença neurológica, muscular, tóxica, metabólica ou ser uma combinação das mesmas.
3 Quociente de inteligência: O QI é utilizado para dimensionar a inteligência humana em relação à faixa etária a que um sujeito pertence. Em 1905, os franceses Alfred Binet e Theodore Simon desenvolveram uma ferramenta para avaliar os potenciais cognitivos dos estudantes, tentando detectar entre eles aqueles que precisavam de um auxílio maior de seus mestres, criando a Escala de Binet-Simon. Outros estudiosos aperfeiçoaram esta metodologia. William Stern foi quem, em 1912, propôs o termo QI. O Quociente de Inteligência é a razão entre a Idade Mental e a Cronológica, multiplicada por 100 para se evitar a utilização dos decimais. Seguindo-se este indicador, é possível avaliar se um infante é precoce ou se apresenta algum retardamento no aprendizado. Os que apresentam o quociente em torno de 100 são considerados normais, os acima deste resultado revelam-se precoces e os que alcançam um valor mais inferior (cerca de 70) são classificados como retardados. Uma alta taxa de QI não indica que o indivíduo seja mentalmente são, ou mesmo feliz, e também não avalia outros potenciais e capacidades, tais como as artísticas e as de natureza espiritual. O QI mede bem os talentos linguísticos, os pensamentos lógicos, matemáticos e analíticos, a facilidade de abstração em construções teóricas, o desenvolvimento escolar, o saber acadêmico acumulado ao longo do tempo. Os grandes gênios do passado, avaliados dessa forma, apresentavam uma taxa de aproximadamente 180, o que caracteriza um superdotado.
4 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
5 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
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