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Associação de ingestão de glúten durante os primeiros 5 anos de vida com incidência de risco aumentado para autoimunidade celíaca e para doença celíaca em crianças predispostas

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Nesta coorte1 multinacional de nascimentos prospectivos, consistindo de 6.605 crianças geneticamente predispostas, a maior ingestão de glúten2 foi associada a um aumento estatisticamente significativo na autoimunidade3 para doença celíaca (diferença de risco absoluta, 6,1%) e na doença celíaca (diferença de risco absoluta, 7,2%) para cada grama4 de aumento na ingestão de glúten2 por dia. Isto significa que o aumento da ingestão de glúten2 durante os primeiros 5 anos de vida foi um fator de risco5 independente para a autoimunidade3 da doença celíaca e para a doença celíaca em crianças geneticamente predispostas.

Saiba mais sobre "Doença celíaca".

Os participantes do The Environmental Determinants of Diabetes6 in the Young (TEDDY), um estudo de coorte7 prospectivo8 observacional concebido para identificar os desencadeantes ambientais do diabetes tipo 19 e da doença celíaca, foram acompanhados em 6 centros clínicos na Finlândia, Alemanha, Suécia e Estados Unidos. Entre 2004 e 2010, foram incluídos 8.676 recém-nascidos portadores de genótipos de antígenos10 HLA associados ao diabetes tipo 19 e à doença celíaca.

O rastreio da doença celíaca com autoanticorpos transglutaminase tecidular foi realizado anualmente em 6.757 crianças a partir dos 2 anos de idade. Dados sobre a ingestão de glúten2 estavam disponíveis para 6.605 crianças (98%) até 30 de setembro de 2017. A ingestão de glúten2 foi estimada a partir dos registros alimentares de 3 dias coletados aos 6, 9 e 12 meses e, a partir de então, até os 5 anos de idade.

O desfecho primário foi a autoimunidade3 da doença celíaca, definida como autoanticorpos transglutaminase tecidual positivos encontrados em duas amostras séricas consecutivas. O desfecho secundário foi doença celíaca confirmada por biópsia11 intestinal ou níveis persistentemente altos de autoanticorpos transglutaminase tecidual.

Das 6.605 crianças (49% do sexo feminino; mediana de seguimento: 9,0 anos [intervalo interquartílico de 8,0-10,0 anos]), 1.216 (18%) desenvolveram autoimunidade3 da doença celíaca e 447 (7%) desenvolveram doença celíaca. A incidência12 para ambos os resultados atingiu o pico aos 2 a 3 anos de idade.

A ingestão diária de glúten2 foi associada com maior risco de autoimunidade3 celíaca para cada aumento de 1 g/dia no consumo de glúten2 (hazard ratio [HR], 1,30 [IC 95%, 1,22-1,38]; risco absoluto aos 3 anos de idade se a quantidade de referência de glúten2 foi consumida, 28,1%; risco absoluto se a ingestão de glúten2 foi 1 g/dia maior do que o valor de referência, 34,2%; diferença de risco absoluto, 6,1% [IC 95% 4,5% -7,7%].

A ingestão diária de glúten2 foi associada com maior risco de doença celíaca para cada aumento de 1 g/dia no consumo de glúten2 (HR, 1,50 [IC 95% 1,35-1,66]; risco absoluto aos 3 anos de idade se a quantidade de referência de glúten2 foi consumido, 20,7%; risco absoluto se a ingestão de glúten2 foi 1 g/dia superior ao valor de referência, 27,9%; diferença de risco absoluto, 7,2% [IC 95% 6,1% -8,3%].

Concluiu-se neste trabalho que a maior ingestão de glúten2 durante os primeiros 5 anos de vida foi associada ao aumento do risco de autoimunidade3 celíaca e de doença celíaca em crianças geneticamente predispostas.

Leia sobre "Aumento dos casos de diabetes tipo 19" e "Intolerância ao glúten2".

 

Fonte: JAMA Network, publicação online, em 13 de agosto de 2019.

 

NEWS.MED.BR, 2019. Associação de ingestão de glúten durante os primeiros 5 anos de vida com incidência de risco aumentado para autoimunidade celíaca e para doença celíaca em crianças predispostas. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1343188/associacao-de-ingestao-de-gluten-durante-os-primeiros-5-anos-de-vida-com-incidencia-de-risco-aumentado-para-autoimunidade-celiaca-e-para-doenca-celiaca-em-criancas-predispostas.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.

Complementos

1 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
2 Glúten: Substância viscosa, extraída de cereais, depois de eliminado o amido. É uma proteína composta pela mistura das proteínas gliadina e glutenina.
3 Autoimunidade: 1. Estado patológico de um organismo atingido por suas próprias defesas imunitárias. 2. Autoalergia.
4 Grama: 1. Designação comum a diversas ervas da família das gramíneas que formam forrações espontâneas ou que são cultivadas para criar gramados em jardins e parques ou como forrageiras, em pastagens; relva. 2. Unidade de medida de massa no sistema c.g.s., equivalente a 0,001 kg . Símbolo: g.
5 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
6 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
7 Estudo de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
8 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
9 Diabetes tipo 1: Condição caracterizada por altos níveis de glicose causada por deficiência na produção de insulina. Ocorre quando o próprio sistema imune do organismo produz anticorpos contra as células-beta produtoras de insulina, destruindo-as. O diabetes tipo 1 se desenvolve principalmente em crianças e jovens, mas pode ocorrer em adultos. Há tendência em apresentar cetoacidose diabética.
10 Antígenos: 1. Partículas ou moléculas capazes de deflagrar a produção de anticorpo específico. 2. Substâncias que, introduzidas no organismo, provocam a formação de anticorpo.
11 Biópsia: 1. Retirada de material celular ou de um fragmento de tecido de um ser vivo para determinação de um diagnóstico. 2. Exame histológico e histoquímico. 3. Por metonímia, é o próprio material retirado para exame.
12 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
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