Pressão arterial sistólica mais alta na admissão não nega os efeitos do tratamento endovascular em pacientes com AVC isquêmico
As diretrizes atuais para o tratamento do AVC isquêmico1 recomendam um limite superior estrito, mas arbitrário, de 185/110 mmHg para pressão arterial2 antes da trombectomia endovascular. No entanto, se a pressão arterial2 na admissão influencia o efeito da trombectomia endovascular no resultado permanece desconhecido.
O objetivo deste estudo, publicado no The Lancet Neurology, foi estudar a influência da pressão arterial2 sistólica (PAS) de admissão no resultado funcional e no efeito da trombectomia endovascular.
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Foram usados dados individuais de pacientes de sete ensaios clínicos3 randomizados (MR CLEAN, ESCAPE, EXTEND-IA, SWIFT PRIME, REVASCAT, PISTE e THRACE) que designaram aleatoriamente pacientes com AVC isquêmico1 de circulação4 anterior para trombectomia endovascular (predominantemente usando stent retrievers, um stent que é retirado) ou terapia médica padrão (controle) entre 1º de junho de 2010 e 30 de abril de 2015. Foram incluídos todos os pacientes para os quais os dados de PAS estavam disponíveis na admissão hospitalar.
O desfecho primário foi o resultado funcional (escala de Rankin modificada) em 90 dias. Avaliou-se a associação da PAS com o desfecho tanto no grupo de trombectomia endovascular quanto no grupo controle usando análise de regressão multinível e testou-se a não linearidade e a interação entre PAS e o efeito da trombectomia endovascular, levando em consideração o tratamento com trombólise5 intravenosa.
Foram incluídos 1.753 pacientes (867 designados para trombectomia endovascular, 886 designados para controle) após a exclusão de 11 pacientes para os quais faltavam dados de PAS.
Foi encontrada uma associação não linear entre PAS e resultado funcional com um ponto de inflexão em 140 mmHg (732 [42%] de 1.753 pacientes tinham PAS <140 mmHg e 1.021 [58%] tinham PAS ≥140 mmHg).
Entre os pacientes com PAS de 140 mmHg ou superior, a PAS de admissão foi associada a pior resultado funcional (razão de chances comum ajustada [acOR] 0,86 por aumento de 10 mmHg na PAS; IC 95% 0,81-0,91).
Não foi encontrada associação entre PAS e resultado funcional em pacientes com PAS inferior a 140 mmHg (acOR 0,97 por diminuição de 10 mmHg na PAS; IC 95% 0,88-1,05).
Não houve interação significativa entre PAS e efeito da trombectomia endovascular no resultado funcional (p = 0,96).
Nessa metanálise, a pressão arterial sistólica6 alta na admissão foi associada a um pior resultado funcional após AVC, mas a PAS não pareceu anular o efeito da trombectomia endovascular.
Esse achado sugere que a pressão arterial sistólica6 de admissão não deve formar a base para decisões de suspender ou adiar a trombectomia endovascular para AVC isquêmico1, mas estudos randomizados são necessários para investigar melhor essa possibilidade.
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Fonte: The Lancet Neurology, Vol. 22, Nº 4, em abril de 2023.