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Tratamento com células-tronco pode prevenir o agravamento dos sintomas na esclerose múltipla

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Cerca de 2,8 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com esclerose múltipla1 (EM), uma condição neurológica crônica que afeta o sistema nervoso2 do corpo.

Embora existam tratamentos disponíveis para ajudar a diminuir os muitos sintomas3 da EM, atualmente não há cura. E embora a expectativa de vida4 das pessoas com EM tenha aumentado ao longo dos anos, elas têm uma expectativa de vida4 média de 25 a 35 anos após o diagnóstico5.

Agora, pesquisadores do Instituto Científico IRCCS San Raffaele em Milão, Itália, mostraram que o transplante de células-tronco6 fetais na medula espinhal7 de pessoas com EM progressiva ajudou a aumentar o número de moléculas neuroprotetoras no líquido espinhal após três meses.

E dois anos após o tratamento, os participantes do estudo que receberam doses mais altas de células-tronco6 transplantadas não experimentaram tanta redução na massa cinzenta do cérebro8 em comparação com aqueles que receberam uma dose menor.

O estudo foi publicado na revista Nature Medicine.

Leia sobre "Como é a esclerose múltipla1" e "Doenças neuromusculares".

Para este estudo, o Dr. Gianvito Martino, autor principal, e sua equipe transplantaram células-tronco6 obtidas do sistema nervoso2 de um feto9 doado por sua mãe para pesquisa científica. A equipe injetou células-tronco6 neurais na medula espinhal7 de 12 pessoas com EM progressiva entre 18 e 55 anos. Cada participante recebeu quatro doses diferentes.

No momento do tratamento, todos os participantes estavam acamados. E antes do tratamento, os cientistas mediram o número de moléculas neuroprotetoras no líquido espinhal e na massa cinzenta do cérebro8 de todos os participantes.

Os pesquisadores descobriram que todos os participantes tinham quantidades aumentadas de moléculas neuroprotetoras em seu fluido espinhal três meses após o tratamento.

“Estudos pré-clínicos demonstraram que, uma vez injetadas no fluido espinhal por meio de punção lombar, as células-tronco6 neurais adultas/fetais podem atingir áreas inflamatórias desmielinizadas do cérebro8 e da medula espinhal7 e, uma vez alcançadas, essas áreas podem proteger o tecido10 de danos adicionais, permanecendo indiferenciados e liberando moléculas neuroprotetoras e anti-inflamatórias”, detalhou Dr. Martino.

“As moléculas detectadas são as moléculas que pensamos que podem atuar para retardar a progressão da doença”, acrescentou.

Em um acompanhamento de dois anos, aqueles que receberam a maior dosagem de células-tronco6 experimentaram menos redução na massa cinzenta do cérebro8 do que aqueles que receberam dosagens menores.

E os pesquisadores relataram que, embora os participantes continuassem acamados, seus sintomas3 de esclerose múltipla1 não pioraram ao longo de dois anos.

“Como demonstramos em estudos pré-clínicos com animais, o tratamento deve ser capaz de promover a regeneração do sistema nervoso2 central”, disse o Dr. Martino. “A liberação de moléculas neuroprotetoras deve ser capaz de fornecer suporte trófico11 para células12 neurais endógenas – oligodendrócitos e neurônios13 – sobrevivendo ao dano tecidual ou apenas parcialmente danificado pela doença”.

“É assim que pensamos que podemos tentar deter a progressão da doença”, continuou ele. “A via de administração celular é de fácil acesso e, portanto, o tratamento pode ser repetido ao longo dos anos.”

No artigo, os pesquisadores relatam que estratégias inovadoras de tratamento pró-regenerativo para esclerose múltipla1 progressiva (EMP), combinando neuroproteção e imunomodulação, representam uma necessidade não atendida.

Células12 precursoras neurais (CPNs) transplantadas em modelos animais de esclerose múltipla1 mostraram eficácia pré-clínica ao promover neuroproteção e remielinização ao liberar moléculas que sustentam suporte trófico11 e plasticidade neural.

Neste estudo, foram apresentados os resultados do STEMS, um ensaio clínico de fase 1 prospectivo14, terapêutico exploratório, não randomizado15, aberto, de descoberta de dose única, realizado no Hospital San Raffaele em Milão, Itália. O estudo avaliou a viabilidade, segurança e tolerabilidade de CPNs fetais humanas (CPNsFH) transplantadas por via intratecal em 12 pacientes com EMP (com evidência de progressão da doença, Escala Expandida de Status de Incapacidade ≥6,5, idade de 18 a 55 anos, duração da doença de 2 a 20 anos, sem qualquer terapia alternativa aprovada).

O desfecho primário de segurança foi alcançado, sem reações adversas graves relacionadas às CPNsFH em 2 anos de acompanhamento, demonstrando claramente que a terapia com CPNsFH na EMP é viável, segura e tolerável.

Análises secundárias exploratórias mostraram uma menor taxa de atrofia16 cerebral em pacientes que receberam a dosagem mais alta de CPNsFH e níveis aumentados de moléculas anti-inflamatórias e neuroprotetoras no líquido cefalorraquidiano17.

Embora preliminares, esses resultados apoiam a lógica e o valor de futuros estudos clínicos com a dose mais alta de células12 precursoras neurais fetais humanas em uma coorte18 maior de pacientes.

Veja também sobre "Células-tronco6: uso na Medicina" e "Conhecendo as doenças degenerativas19".

 

Fontes:
Nature Medicine, publicação em 09 de janeiro de 2023.
Medical News Today, notícia publicada em 18 de janeiro de 2023.

 

NEWS.MED.BR, 2023. Tratamento com células-tronco pode prevenir o agravamento dos sintomas na esclerose múltipla. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1432490/tratamento-com-celulas-tronco-pode-prevenir-o-agravamento-dos-sintomas-na-esclerose-multipla.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.

Complementos

1 Esclerose múltipla: Doença degenerativa que afeta o sistema nervoso, produzida pela alteração na camada de mielina. Caracteriza-se por alterações sensitivas e de motilidade que evoluem através do tempo produzindo dano neurológico progressivo.
2 Sistema nervoso: O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal e a porção periférica está constituída pelos nervos cranianos e espinhais, pelos gânglios e pelas terminações nervosas.
3 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
4 Expectativa de vida: A expectativa de vida ao nascer é o número de anos que se calcula que um recém-nascido pode viver caso as taxas de mortalidade registradas da população residente, no ano de seu nascimento, permaneçam as mesmas ao longo de sua vida.
5 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
6 Células-tronco: São células primárias encontradas em todos os organismos multicelulares que retêm a habilidade de se renovar por meio da divisão celular mitótica e podem se diferenciar em uma vasta gama de tipos de células especializadas.
7 Medula Espinhal:
8 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
9 Feto: Filhote por nascer de um mamífero vivíparo no período pós-embrionário, depois que as principais estruturas foram delineadas. Em humanos, do filhote por nascer vai do final da oitava semana após a CONCEPÇÃO até o NASCIMENTO, diferente do EMBRIÃO DE MAMÍFERO prematuro.
10 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
11 Trófico: Relativo à nutrição. Em biologia, é relativo a ou próprio de alimento ou do processo de alimentação.
12 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
13 Neurônios: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO. Sinônimos: Células Nervosas
14 Prospectivo: 1. Relativo ao futuro. 2. Suposto, possível; esperado. 3. Relativo à preparação e/ou à previsão do futuro quanto à economia, à tecnologia, ao plano social etc. 4. Em geologia, é relativo à prospecção.
15 Randomizado: Ensaios clínicos comparativos randomizados são considerados o melhor delineamento experimental para avaliar questões relacionadas a tratamento e prevenção. Classicamente, são definidos como experimentos médicos projetados para determinar qual de duas ou mais intervenções é a mais eficaz mediante a alocação aleatória, isto é, randomizada, dos pacientes aos diferentes grupos de estudo. Em geral, um dos grupos é considerado controle – o que algumas vezes pode ser ausência de tratamento, placebo, ou mais frequentemente, um tratamento de eficácia reconhecida. Recursos estatísticos são disponíveis para validar conclusões e maximizar a chance de identificar o melhor tratamento. Esses modelos são chamados de estudos de superioridade, cujo objetivo é determinar se um tratamento em investigação é superior ao agente comparativo.
16 Atrofia: 1. Em biologia, é a falta de desenvolvimento de corpo, órgão, tecido ou membro. 2. Em patologia, é a diminuição de peso e volume de órgão, tecido ou membro por nutrição insuficiente das células ou imobilização. 3. No sentido figurado, é uma debilitação ou perda de alguma faculdade mental ou de um dos sentidos, por exemplo, da memória em idosos.
17 Líquido cefalorraquidiano: Líquido cefalorraquidiano (LCR), também conhecido como líquor ou fluido cérebro espinhal, é definido como um fluido corporal estéril, incolor, encontrado no espaço subaracnoideo no cérebro e na medula espinhal (entre as meninges aracnoide e pia-máter). Caracteriza-se por ser uma solução salina pura, com baixo teor de proteínas e células, atuando como um amortecedor para o córtex cerebral e a medula espinhal. Possui também a função de fornecer nutrientes para o tecido nervoso e remover resíduos metabólicos do mesmo. É sintetizado pelos plexos coroidais, epitélio ventricular e espaço subaracnoideo em uma taxa de aproximadamente 20 mL/hora. Em recém-nascidos, este líquido é encontrado em um volume que varia entre 10 a 60 mL, enquanto que no adulto fica entre 100 a 150 mL.
18 Coorte: Grupo de indivíduos que têm algo em comum ao serem reunidos e que são observados por um determinado período de tempo para que se possa avaliar o que ocorre com eles. É importante que todos os indivíduos sejam observados por todo o período de seguimento, já que informações de uma coorte incompleta podem distorcer o verdadeiro estado das coisas. Por outro lado, o período de tempo em que os indivíduos serão observados deve ser significativo na história natural da doença em questão, para que haja tempo suficiente do risco se manifestar.
19 Degenerativas: Relativas a ou que provocam degeneração.
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