A ordenha do cordão umbilical pode ser segura e mais eficaz para recém-nascidos não vigorosos nascidos a termo ou no pré-termo tardio
Um tratamento para mover o sangue do cordão umbilical1 para o corpo de um recém-nascido pode melhorar a saúde2 geral de recém-nascidos classificados como não vigorosos – tônus ruim, pálidos e com respiração mínima, sugere um estudo financiado pelo National Institutes of Health dos Estados Unidos.
O procedimento, conhecido como ordenha do cordão umbilical3, envolve apertar suavemente o cordão entre o polegar e o indicador e empurrar lentamente o sangue4 para o abdômen. Em comparação com os bebês5 não vigorosos que receberam o tratamento padrão de clampeamento imediato do cordão umbilical3, os bebês5 que foram submetidos à ordenha do cordão foram menos propensos a precisar de suporte cardíaco e respiratório, menos propensos a ter um baixo nível de oxigênio no cérebro6 e mais propensos a ter maiores níveis de hemoglobina7, uma substância que indica a presença de glóbulos vermelhos.
O estudo foi conduzido por Anup C. Katheria, MD, do Sharp Mary Birch Hospital for Women and Newborns e colegas de instituições nos Estados Unidos, Canadá e Polônia. O artigo foi publicado no American Journal of Obstetrics and Gynecology.
“Os resultados do estudo fornecem evidências de que a ordenha do cordão umbilical3 para bebês5 a termo e próximos do termo pode ser uma alternativa segura e mais eficaz ao clampeamento imediato do cordão”, disse Michele Walsh, MD, do National Institutes of Health.
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A prática padrão para bebês5 não vigorosos é pinçar e cortar imediatamente o cordão umbilical3 para que o bebê possa ser ressuscitado rapidamente. Muitos pesquisadores estão preocupados, no entanto, que isso possa privá-los do sangue4 necessário e piorar seus resultados. Bebês5 não vigorosos correm o risco de complicações, como baixos níveis de oxigênio no cérebro6, paralisia8 cerebral e acidente vascular cerebral9.
No presente estudo, os autores procuraram determinar se a ordenha do cordão umbilical3 para bebês5 não vigorosos poderia fornecer benefícios semelhantes ao clampeamento tardio do cordão umbilical3 em menos tempo.
A recomendação atual para bebês5 vigorosos a termo é adiar o clampeamento e o corte do cordão umbilical3 por pelo menos 30 a 60 segundos após o nascimento. Isso permite que o sangue4 do cordão entre na circulação10 do recém-nascido. Comparados aos bebês5 submetidos ao clampeamento imediato do cordão, os bebês5 a termo submetidos ao clampeamento tardio apresentam níveis mais elevados de hemoglobina7 e ferro. Recém-nascidos prematuros submetidos ao clampeamento tardio do cordão umbilical3 têm menos necessidade de transfusão11 de sangue4, são menos propensos a ter hemorragia12 intracerebral e são menos propensos a ter enterocolite necrosante13, uma deterioração do intestino com risco de vida.
No artigo, os pesquisadores contextualizam que o clampeamento tardio do cordão umbilical3 e a ordenha do cordão umbilical3 proporcionam transfusão11 placentária para recém-nascidos vigorosos. O clampeamento tardio do cordão em recém-nascidos não vigorosos pode não ser fornecido devido à percepção da necessidade de ressuscitação imediata. A ordenha do cordão umbilical3 é uma alternativa, pois pode ser realizada mais rapidamente do que o clampeamento tardio do cordão umbilical3 e pode conferir benefícios semelhantes.
A hipótese do estudo foi que a ordenha do cordão umbilical3 reduziria a admissão na unidade de terapia intensiva14 neonatal em comparação com o clampeamento precoce do cordão umbilical3 em recém-nascidos não vigorosos nascidos entre 35 e 42 semanas de gestação.
Este foi um estudo cruzado pragmático randomizado15 por cluster de bebês5 nascidos com 35 a 42 semanas de gestação em 10 centros médicos em 3 países entre janeiro de 2019 e maio de 2021. Os centros foram randomizados para ordenha do cordão umbilical3 ou clampeamento precoce do cordão umbilical3 por aproximadamente 1 ano e, em seguida, houve cruzamento por mais um ano ou até que o número necessário de indivíduos consentidos fosse atingido.
Os bebês5 eram elegíveis se não estivessem vigorosos ao nascer (tônus ruim, cor pálida ou falta de respiração nos primeiros 15 segundos após o nascimento) e foram designados para ordenha do cordão umbilical3 ou clampeamento precoce do cordão de acordo com a atribuição de randomização do hospital de nascimento. As características basais e os resultados foram coletados após consentimento informado.
O desfecho primário foi a admissão na unidade de terapia intensiva14 neonatal por critérios pré-definidos. O principal desfecho de segurança foi encefalopatia16 hipóxico isquêmica. Os dados foram analisados pelo conceito de intenção de tratar.
Entre 16.234 recém-nascidos selecionados, 1.780 eram elegíveis (905 ordenhas do cordão umbilical3, 875 clampeamentos precoces do cordão umbilical3) e 1.730 tinham dados de desfecho primário para análise (97% dos elegíveis; 872 ordenhas do cordão umbilical3, 858 clampeamentos precoces do cordão umbilical3), fosse por consentimento informado (606 ordenhas do cordão umbilical3, 601 clampeamentos precoces do cordão) ou por dispensa de consentimento informado (266 ordenhas do cordão umbilical3, 257 clampeamentos precoces do cordão).
A diferença na frequência de admissão na unidade de terapia intensiva14 neonatal usando critérios pré-definidos entre os grupos de ordenha do cordão umbilical3 (23%) e clampeamento precoce do cordão umbilical3 (28%) não atingiu significância estatística (razão de chances modelada, 0,69; intervalo de confiança de 95%, 0,41-1,14).
A ordenha do cordão umbilical3 foi associada a desfechos secundários predefinidos, incluindo hemoglobina7 mais alta (diferença média modelada entre os grupos de ordenha do cordão umbilical3 e clampeamento precoce do cordão 0,68 g/dL, intervalo de confiança de 95%, 0,31-1,05), e menores chances de escores anormais de Apgar de 1 minuto (Apgar ≤3, 30% vs 34%, odds ratio bruto, 0,72; intervalo de confiança de 95%, 0,56-0,92), suporte cardiorrespiratório no parto (61% vs 71%, odds ratio modelado, 0,57; intervalo de confiança de 95%, 0,33-0,99) e hipotermia17 terapêutica18 (3% vs 4%, odds ratio bruto, 0,57; intervalo de confiança de 95%, 0,33-0,99).
A encefalopatia16 hipóxico isquêmica moderada a grave foi significativamente menos comum com a ordenha do cordão umbilical3 (1% vs 3%, odds ratio bruto, 0,48; intervalo de confiança de 95%, 0,24-0,96).
Não foram observadas diferenças significativas para bolus19 de solução salina normal, fototerapia, escores anormais de Apgar de 5 minutos (Apgar ≤6, 15,7% vs 18,8%, odds ratio bruto, 0,81; intervalo de confiança de 95%, 0,62-1,06) ou um evento adverso grave composto de óbito20 antes da alta.
O estudo concluiu que, entre os bebês5 não vigorosos nascidos com 35 a 42 semanas de gestação, a ordenha do cordão umbilical3 não reduziu a admissão na unidade de terapia intensiva14 neonatal por critérios pré-definidos. No entanto, os bebês5 do braço de ordenha do cordão umbilical3 apresentaram maior hemoglobina7, receberam menos suporte cardiorrespiratório na sala de parto, tiveram menor incidência21 de encefalopatia16 hipóxico isquêmica moderada a grave e receberam menos hipotermia17 terapêutica18.
Esses dados podem fornecer a primeira evidência de estudo controlado randomizado15 de que a ordenha do cordão umbilical3 em bebês5 não vigorosos é viável, segura e superior ao clampeamento precoce do cordão.
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Fontes:
American Journal of Obstetrics and Gynecology, publicação em 12 de agosto de 2022.
News Medical, notícia publicada em 07 de setembro de 2022.