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Uso de antiepilépticos na gravidez não levou a piores resultados cognitivos na prole aos 2 anos, em comparação a crianças não expostas à medicação

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Os riscos de neurodesenvolvimento da exposição fetal são incertos para muitos medicamentos anticonvulsivantes.

Nesse contexto, para mulheres com epilepsia1, a gravidez2 tem sido historicamente muito preocupante. Nas gerações anteriores, as pacientes com epilepsia1 eram desencorajadas a engravidar, pois as convulsões descontroladas podem prejudicar tanto a mãe quanto o bebê. Os medicamentos anticonvulsivantes mais antigos apresentam um alto risco de defeitos físicos congênitos3 e déficits cognitivos4 em crianças expostas durante a gravidez2.

Mas os mais novos medicamentos anticonvulsivantes são muito mais seguros para uso durante a gravidez2 e a amamentação5, de acordo com um estudo liderado pela Stanford Medicine e publicado no JAMA Neurology.

O estudo mediu as habilidades verbais aos 2 anos em quase 300 crianças cujas mães tomaram medicamentos mais novos para epilepsia1. Seus filhos tiveram desenvolvimento da linguagem igual aos de um grupo de controle, juntamente com riscos moderados em outras áreas para crianças expostas aos níveis mais elevados dos medicamentos antes do nascimento.

“No geral, acho que os resultados aqui são positivos para mulheres com epilepsia”, disse o autor principal Kimford Meador, MD, neurologista6 e especialista em tratamento de epilepsia1 em grávidas. “Com base em nossas descobertas, essas pacientes devem se sentir melhor sobre suas oportunidades e opções de ter um filho.”

Saiba mais sobre "Epilepsias - o que são", "O que saber sobre os benzodiazepínicos" e "Como evolui a linguagem da criança".

O estudo avaliou os resultados cognitivos4 de crianças de dois anos de idade de grávidas com epilepsia1 no estudo de Resultados Maternos e Efeitos de Neurodesenvolvimento de Medicamentos Antiepilépticos.

O objetivo foi comparar crianças de 2 anos de idade que nasceram de mulheres com epilepsia1 (MCE) vs mulheres saudáveis ​​e avaliar a associação de exposição máxima a anticonvulsivantes no terceiro trimestre e habilidades cognitivas subsequentes entre crianças de MCE.

O estudo de Resultados Maternos e Efeitos de Neurodesenvolvimento de Medicamentos Antiepilépticos (MONEAD) é uma investigação prospectiva, observacional e multicêntrica dos resultados da gravidez2 que inscreveu mulheres de 19 de dezembro de 2012 a 13 de janeiro de 2016, em 20 centros de epilepsia1 dos EUA.

As crianças são acompanhadas desde o nascimento até os 6 anos de idade, com avaliação aos 2 anos de idade para este estudo. Das 1.123 grávidas avaliadas, 456 foram inscritas; 426 não atenderam aos critérios e 241 optaram por não participar. Os dados foram analisados ​​de 20 de fevereiro a 4 de dezembro de 2020.

Os principais desfechos e medidas foram a pontuação do domínio da linguagem de acordo com as Escalas Bayley de Desenvolvimento Para Bebês7 e Crianças, Terceira Edição (BSID-III), que incorpora pontuações de 5 domínios (linguagem, motor, cognitivo8, socioemocional e adaptativo geral) e a associação entre o domínio de linguagem da BSID-III e níveis sanguíneos de medicamentos anticonvulsivantes no terceiro trimestre em crianças de MCE. As análises foram ajustadas para múltiplos fatores de confusão potenciais e as medidas de exposição a anticonvulsivantes foram avaliadas.

As avaliações da BSID-III foram analisadas em 292 crianças de MCE (idade mediana, 2,1 [variação, 1,9-2,5] anos; 155 meninas [53,1%] e 137 meninos [46,9%]) e 90 filhos de mulheres saudáveis ​​(idade mediana, 2,1 [intervalo, 2,0-2,4] anos; 43 meninas [47,8%] e 47 meninos [52,2%]).

Não foram encontradas diferenças entre os grupos no resultado primário do domínio da linguagem (-0,5; IC 95%, -4,1 a 3,2). Nenhum dos outros 4 domínios da BSID-III diferiu entre crianças de MCE vs mulheres saudáveis.

A maioria das MCE estava tomando lamotrigina e/ou levetiracetam. A exposição a medicamentos anticonvulsivantes em crianças de MCE não mostrou associação com o domínio da linguagem. No entanto, análises secundárias revelaram que níveis máximos de anticonvulsivantes observados mais elevados no terceiro trimestre foram associados a pontuações da BSID-III mais baixas para o domínio motor (-5,6; IC 95%, -10,7 a -0,5) e doses máximas de anticonvulsivantes mais altas no terceiro trimestre foram associadas a pontuações mais baixas no domínio adaptativo geral (-1,4; IC 95%, -2,8 a -0,05).

O estudo concluiu que os resultados das crianças aos 2 anos de idade não diferiram entre os filhos de mulheres com epilepsia1 que tomam medicamentos anticonvulsivantes e os filhos de mulheres saudáveis.

Leia sobre "Desenvolvimento infantil", "Quando uma criança começa a falar" e "Convulsões - o que são".

 

Fontes:
JAMA Neurology, publicação em 07 de junho de 2021.
Stanford Medicine, notícia publicada em 24 de junho de 2021.

 

NEWS.MED.BR, 2021. Uso de antiepilépticos na gravidez não levou a piores resultados cognitivos na prole aos 2 anos, em comparação a crianças não expostas à medicação. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1397800/uso-de-antiepilepticos-na-gravidez-nao-levou-a-piores-resultados-cognitivos-na-prole-aos-2-anos-em-comparacao-a-criancas-nao-expostas-a-medicacao.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.

Complementos

1 Epilepsia: Alteração temporária e reversível do funcionamento cerebral, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Quando restritos, a crise será chamada crise epiléptica parcial; quando envolverem os dois hemisférios cerebrais, será uma crise epiléptica generalizada. O paciente pode ter distorções de percepção, movimentos descontrolados de uma parte do corpo, medo repentino, desconforto no estômago, ver ou ouvir de maneira diferente e até perder a consciência - neste caso é chamada de crise complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de memória. Existem outros tipos de crises epilépticas.
2 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
3 Congênitos: 1. Em biologia, o que é característico do indivíduo desde o nascimento ou antes do nascimento; conato. 2. Que se manifesta espontaneamente; inato, natural, infuso. 3. Que combina bem com; apropriado, adequado. 4. Em termos jurídicos, é o que foi adquirido durante a vida fetal ou embrionária; nascido com o indivíduo. Por exemplo, um defeito congênito.
4 Cognitivos: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
5 Amamentação: Ato da nutriz dar o peito e o lactente mamá-lo diretamente. É um fenômeno psico-sócio-cultural. Dar de mamar a; criar ao peito; aleitar; lactar... A amamentação é uma forma de aleitamento, mas há outras formas.
6 Neurologista: Médico especializado em problemas do sistema nervoso.
7 Bebês: Lactentes. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
8 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
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