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Associação da exposição pré-natal ao ftalato com o desenvolvimento da linguagem na primeira infância

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A exposição pré-natal aos ftalatos tem sido associada a atrasos no desenvolvimento da linguagem. Foi feita uma avaliação para examinar esta associação em crianças, em dois estudos de coorte1 de base populacional. Os resultados foram publicados pelo JAMA Pediatrics.

Saiba mais sobre "Pré-natal" e "Quando uma criança começa a falar".

Os dados deste estudo foram obtidos do estudo Swedish Environmental Longitudinal Mother and Child, Asthma and Allergy (SELMA) realizado em clínicas pré-natal em todo condado de Värmland, na Suécia, e do estudo The Infant Development and the Environment Study (TIDES) conduzido em quatro centros acadêmicos nos Estados Unidos.

Os participantes recrutados em ambos os estudos eram mulheres em seu primeiro trimestre de gravidez2 que tinham alfabetização em sueco ou inglês (SELMA - n=963) ou espanhol (TIDES - n=370) e seus filhos. Foram incluídos aqueles que tinham dados completos sobre os níveis de metabólitos3 de ftalato urinário pré-natal, atraso de linguagem e covariáveis modeladas. Para o SELMA, os dados foram coletados de 1º de novembro de 2007 a 30 de junho de 2013 e a análise dos dados foi realizada de 1º de novembro de 2016 a 30 de junho de 2018. Para o TIDES, a coleta de dados teve início em 1º de janeiro de 2010 e terminou em 29 de março 29 de 2016, e a análise dos dados foi realizada no período de 15 de setembro de 2016 a 30 de junho de 2018.

As mães completaram um questionário de desenvolvimento de linguagem que perguntou o número de palavras que seus filhos poderiam entender ou usar em uma média de 30 meses de idade (SELMA) e 37 meses de idade (TIDES). As respostas foram categorizadas em menos de 25, 25 a 50 e mais de 50 palavras, com 50 palavras ou menos sendo classificado como atraso de linguagem.

No estudo SELMA, foram incluídas na análise 963 mães, 455 (47,2%) meninas e 508 [52,8%] meninos. No TIDES, 370 mães, 185 (50,0%) meninas e 185 (50,0%) menino. A prevalência4 de atraso de linguagem foi de 10% em ambos os estudos, SELMA (96 relatados) e TIDES (37 relatados), com maiores taxas de atraso em meninos do que em meninas.

Em análises brutas, os níveis de metabólitos3 de dibutil ftalato e butil benzil ftalato foram estatisticamente e significativamente associados ao atraso de linguagem em ambas as coortes. Em análises ajustadas, a duplicação da exposição pré-natal ao dibutil ftalato e ao butil benzil ftalato aumentou a razão de chances (OR) para atraso de linguagem em aproximadamente 25% a 40%, com resultados estatisticamente significativos no estudo SELMA. A duplicação da exposição pré-natal ao monoetil ftalato foi associada a um aumento de aproximadamente 15% na OR para atraso de linguagem no estudo SELMA, mas tal associação não foi encontrada no TIDES.

Nas conclusões deste estudo, a exposição pré-natal ao dibutil ftalato e ao butil benzil ftalato esteve estatisticamente e significativamente associada ao atraso da linguagem em crianças, tanto no estudo SELMA como no TIDES. Esses achados, juntamente com a prevalência4 da exposição pré-natal aos ftalatos, a importância do desenvolvimento da linguagem e os resultados inconsistentes de um estudo dinamarquês de 2017, sugerem que a associação de ftalatos com o atraso da linguagem pode justificar estudos mais aprofundados.

Leia também sobre "Crescimento infantil5" e "Autismo".

 

Fonte: JAMA Pediatrics, 29 de outubro de 2018

 

NEWS.MED.BR, 2018. Associação da exposição pré-natal ao ftalato com o desenvolvimento da linguagem na primeira infância. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1326278/associacao-da-exposicao-pre-natal-ao-ftalato-com-o-desenvolvimento-da-linguagem-na-primeira-infancia.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.

Complementos

1 Estudos de coorte: Um estudo de coorte é realizado para verificar se indivíduos expostos a um determinado fator apresentam, em relação aos indivíduos não expostos, uma maior propensão a desenvolver uma determinada doença. Um estudo de coorte é constituído, em seu início, de um grupo de indivíduos, denominada coorte, em que todos estão livres da doença sob investigação. Os indivíduos dessa coorte são classificados em expostos e não-expostos ao fator de interesse, obtendo-se assim dois grupos (ou duas coortes de comparação). Essas coortes serão observadas por um período de tempo, verificando-se quais indivíduos desenvolvem a doença em questão. Os indivíduos expostos e não-expostos devem ser comparáveis, ou seja, semelhantes quanto aos demais fatores, que não o de interesse, para que as conclusões obtidas sejam confiáveis.
2 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
3 Metabólitos: Qualquer composto intermediário das reações enzimáticas do metabolismo.
4 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
5 Crescimento Infantil: Aumento na estrutura do corpo, tendo em vista a multiplicação e o aumento do tamanho das células. Controla-se principalmente o peso corporal, a estatura e o perímetro cefálico, com o objetivo de saber o quanto a criança ganhou ou perdeu em determinados intervalos de tempo e tendo por base um acompanhamento a longo prazo, através de anotações em gráficos ou curvas de crescimento. O pediatra precisa conhecer e analisar vários fatores referentes à criança e a sua família, como o peso e a altura dos pais, o padrão de crescimento deles, os dados da gestação, o peso e a estatura ao nascimento e a alimentação do bebê para avaliar a situação do crescimento de determinada criança. Não é simplesmente consultar gráficos. Somente o médico da criança pode avaliar seu crescimento. Uma criança pode estar fora da “faixa mais comum de referência“ e, ainda assim, ter um crescimento normal.
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