Gostou do artigo? Compartilhe!

Papel importante do vírus herpes simplex tipo 1 na doença de Alzheimer, revisão publicada pela revista Frontier Aging Neuroscience

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie esta notícia

Fortes evidências surgiram recentemente para validar o conceito de que o vírus1 herpes simplex tipo 1 (HSV1) é um grande risco para a doença de Alzheimer2 (DA). Este conceito propõe que o HSV1 latente no cérebro3 de portadores do alelo4 tipo 4 do gene da apolipoproteína E (APOE-ε4) é reativado intermitentemente por eventos como imunossupressão5, infecção6 periférica e inflamação7, com o consequente dano acumulado culminando eventualmente no desenvolvimento de DA.

Dados populacionais para investigar isto epidemiologicamente, por exemplo para descobrir se os sujeitos tratados com antivirais podem ser protegidos do desenvolvimento de demência8, estão disponíveis em Taiwan, no banco de dados National Health Insurance Research Database, no qual 99,9% da população estão matriculados. Isso está sendo amplamente explorado para obter informações sobre infecções9 e doenças microbianas. Três publicações apareceram agora descrevendo dados sobre o desenvolvimento de demência8 senil (DS) e o tratamento daqueles com sinais10 evidentes de doença causada pelo vírus1 varicela11 zóster (VZV) ou por HSV.

Saiba mais sobre "Herpes simples", "Mal de Alzheimer12", "Demência8" e "Herpes zóster".

Os resultados mostram que o risco de DS é muito maior naqueles que são soropositivos para HSV do que em soronegativos, e que o tratamento antiviral causa uma diminuição dramática no número de indivíduos que mais tarde desenvolveram DS. Deve-se ressaltar que esses resultados se aplicam apenas àqueles com casos graves de infecção6 por HSV1 ou VZV, mas quando considerados com mais de 150 publicações que apoiam fortemente o papel do HSV1 na DA, eles justificam o uso de antivirais anti-herpes para tratar a DA.

Três outros estudos são descritos que se relacionam diretamente ao HSV1 e à DA: eles lidam respectivamente com alterações lisossômicas em culturas de células13 infectadas pelo HSV1, com evidências de um papel do herpes vírus1 humano tipo 6 e 7 (HHV6 e HHV7) na DA e efeitos virais na expressão do gene hospedeiro e com as características antivirais da substância beta amiloide (Aβ).

Três estudos indiretamente relevantes lidam, respectivamente, com a esquizofrenia14 relacionada ao tratamento antiviral para o HSV1, com a probabilidade de o HSV1 ser uma causa da fibromialgia15 (FM), e com a FM estar associada a um desenvolvimento posterior de DS.

Estudos sobre a ligação entre epilepsia16, DA e encefalite17 por herpes simplex (HSV) também são descritos, assim como os possíveis papéis de APOE-ε4, HHV6 e HSV1 na epilepsia16.

Leia sobre "Esquizofrenia14", "Fibromialgia15", "Epilepsias" e "Encefalite17".

Um trabalho epidemiológico adicional da população seria inestimável para a compreensão do papel dos microrganismos, em particular do HSV1, na DA. Usando os registros de Taiwan, ou de qualquer outro país com informações comparáveis, o desenvolvimento subsequente de demência8 entre indivíduos que sofreram herpes labial ou herpes genital leve poderia ser investigado, embora fosse muito menos provável que fosse documentado e, portanto, muito menos identificáveis do que casos graves.

No entanto, a investigação de pessoas soropositivas para HSV assintomáticas versus pessoas soronegativas para HSV seria informativa, embora, aos 60 anos de idade, estas últimas compreendessem apenas uma minoria muito pequena. Além disso, poderiam ser selecionados indivíduos que sofreram infecções9 periféricas graves, com base no fato de que a inflamação7 assim causada poderia levar à inflamação7 no cérebro3 e à reativação de qualquer micróbio latente. De particular interesse seriam aqueles que sofreram encefalite17 por vírus1 herpes simplex, e também pacientes com epilepsia16 — mesmo aqueles nos quais nenhuma infecção6 por vírus1 havia sido relatada. Se amostras de tecido18 ou sangue19 estivessem disponíveis, os genótipos da APOE poderiam ser determinados para qualquer associação com outras características.

Claramente, os tipos de antivirais que podem ser usados para o tratamento da DA devem ser cuidadosamente escolhidos, especialmente se combinados com um agente anti-inflamatório, bem como a duração do tratamento e o estágio em que seu uso seria mais eficaz. Mesmo que os efeitos fossem apenas um atraso no início da doença, isso ainda seria extremamente benéfico para pacientes20, cuidadores e para a economia. Evidentemente, a vacinação contra o HSV1 seria a melhor opção, pois a prevenção da doença é melhor do que a cura. Infelizmente, no entanto, não há atualmente nenhuma vacina21 para HSV1 e qualquer teste de vacina21 presumivelmente teria que se estender por muitos anos para encontrar o resultado.

Dados de pesquisa sobre uma causa microbiana para a DA foram ignorados ou descartados por três décadas, infelizmente para aqueles que desenvolveram DA durante esse período e que, portanto, não tiveram chance de se beneficiar da informação. Certamente, agora é a hora de corrigir a situação, determinando e depois usando os melhores meios de tratamento disponíveis.

Veja também sobre "Envelhecimento cerebral normal e patológico" e "Exercite seu cérebro3 todos os dias".

 

Os artigos citados no texto acima podem ser conferidos na bibliografia do artigo original "Corroboration of a Major Role for Herpes Simplex Virus1 Type 1 in Alzheimer’s Disease", publicado pela revista Frontier Aging Neuroscience.

 

Fonte: Frontier Aging Neuroscience, 19 de outubro de 2018

 

NEWS.MED.BR, 2018. Papel importante do vírus herpes simplex tipo 1 na doença de Alzheimer, revisão publicada pela revista Frontier Aging Neuroscience. Disponível em: <https://www.news.med.br/p/medical-journal/1326053/papel-importante-do-virus-herpes-simplex-tipo-1-na-doenca-de-alzheimer-revisao-publicada-pela-revista-frontier-aging-neuroscience.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.

Complementos

1 Vírus: Pequeno microorganismo capaz de infectar uma célula de um organismo superior e replicar-se utilizando os elementos celulares do hospedeiro. São capazes de causar múltiplas doenças, desde um resfriado comum até a AIDS.
2 Doença de Alzheimer: É uma doença progressiva, de causa e tratamentos ainda desconhecidos que acomete preferencialmente as pessoas idosas. É uma forma de demência. No início há pequenos esquecimentos, vistos pelos familiares como parte do processo normal de envelhecimento, que se vão agravando gradualmente. Os pacientes tornam-se confusos e por vezes agressivos, passando a apresentar alterações da personalidade, com distúrbios de conduta e acabam por não reconhecer os próprios familiares e até a si mesmos quando colocados frente a um espelho. Tornam-se cada vez mais dependentes de terceiros, iniciam-se as dificuldades de locomoção, a comunicação inviabiliza-se e passam a necessitar de cuidados e supervisão integral, até mesmo para as atividades elementares como alimentação, higiene, vestuário, etc..
3 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
4 Alelo: 1. Que ocupa os mesmos loci (locais) nos cromossomos (diz-se de gene). 2. Em genética, é cada uma das formas que um gene pode apresentar e que determina características diferentes.
5 Imunossupressão: Supressão das reações imunitárias do organismo, induzida por medicamentos (corticosteroides, ciclosporina A, etc.) ou agentes imunoterápicos (anticorpos monoclonais, por exemplo); que é utilizada em alergias, doenças autoimunes, etc. A imunossupressão é impropriamente tomada por alguns como sinônimo de imunodepressão.
6 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
7 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
8 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
9 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
10 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
11 Varicela: Doença viral freqüente na infância e caracterizada pela presença de febre e comprometimento do estado geral juntamente com a aparição característica de lesões que têm vários estágios. Primeiro são pequenas manchas avermelhadas, a seguir formam-se pequenas bolhas que finalmente rompem-se deixando uma crosta. É contagiosa, mas normalmente não traz maiores conseqüências à criança. As bolhas e suas crostas, se não sofrerem infecção secundária, não deixam cicatriz.
12 Alzheimer: Doença degenerativa crônica que produz uma deterioração insidiosa e progressiva das funções intelectuais superiores. É uma das causas mais freqüentes de demência. Geralmente começa a partir dos 50 anos de idade e tem incidência similar entre homens e mulheres.
13 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
14 Esquizofrenia: Doença mental do grupo das Psicoses, caracterizada por alterações emocionais, de conduta e intelectuais, caracterizadas por uma relação pobre com o meio social, desorganização do pensamento, alucinações auditivas, etc.
15 Fibromialgia:
16 Epilepsia: Alteração temporária e reversível do funcionamento cerebral, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Quando restritos, a crise será chamada crise epiléptica parcial; quando envolverem os dois hemisférios cerebrais, será uma crise epiléptica generalizada. O paciente pode ter distorções de percepção, movimentos descontrolados de uma parte do corpo, medo repentino, desconforto no estômago, ver ou ouvir de maneira diferente e até perder a consciência - neste caso é chamada de crise complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de memória. Existem outros tipos de crises epilépticas.
17 Encefalite: Inflamação do tecido encefálico produzida por uma infecção viral, bacteriana ou micótica (fungos).
18 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
19 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
20 Para pacientes: Você pode utilizar este texto livremente com seus pacientes, inclusive alterando-o, de acordo com a sua prática e experiência. Conheça todos os materiais Para Pacientes disponíveis para auxiliar, educar e esclarecer seus pacientes, colaborando para a melhoria da relação médico-paciente, reunidos no canal Para Pacientes . As informações contidas neste texto são baseadas em uma compilação feita pela equipe médica da Centralx. Você deve checar e confirmar as informações e divulgá-las para seus pacientes de acordo com seus conhecimentos médicos.
21 Vacina: Tratamento à base de bactérias, vírus vivos atenuados ou seus produtos celulares, que têm o objetivo de produzir uma imunização ativa no organismo para uma determinada infecção.
Gostou do artigo? Compartilhe!